Linha da Beira Alta: IP e Medway ainda não acordaram compensações
09/03/2022 17:55 - Transportes & Negócios

A Linha da Beira Alta fechará para obras no próximo dia 19, mas a IP e a Medway ainda não fecharam o acordo sobre as compensações pelos sobrecustos, disse ao TRANSPORTES & NEGÓCIOS o presidente da operadora ferroviária.

Linha da Beira Alta: IP e Medway ainda não acordaram compensações

A Linha da Beira Alta vai estar encerrada à operação nos próximos nove meses, para modernização. A interrupção chegou a estar prevista para o ano passado, e logo se falou na necessidade de compensar os operadores pelos sobrecustos em que incorrerão pelo desvio dos comboios.

Facto é que, a dez dias do fecho, ainda não há acordo formal entre a Infraestruturas de Portugal (IP) e a Medway, avançou Carlos Vasconcelos, que todavia desvaloriza o atraso. O TRANSPORTES & NEGÓCIOS tentou ouvir também Álvaro Fonseca (Takargo), mas até ao momento não foi possível.

T&N – Já acordaram com a IP a compensação pelos sobrecustos em que vão incorrer? É possível saber como serão calculados?

Carlos Vasconcelos – Ainda não está concluído o acordo de compensação pelos impactos que decorrem do encerramento da Linha da Beira Alta. O nosso objectivo é que estes sejam absolutamente nulos para os clientes, ou seja, que sejamos compensados exactamente pelos custos adicionais que derivem desta medida, que ajudará a reduzir substancialmente o custo e o prazo da obra. Temos a expectativa de que é essa também a pretensão da IP, pelo que vemos com naturalidade a conclusão do acordo de compensações antes da data de encerramento da Linha.

T&N – O prazo anunciado para o encerramento é de nove meses. Está prevista alguma compensação extra no caso de esse prazo não ser cumprido?

Carlos Vasconcelos – Obviamente, esperamos que as compensações decorram durante todo o período de encerramento da Linha da Beira Alta, mesmo em caso de derrapagem do prazo.

T&N – A IP fala num aumento significativo da capacidade (duplicação em termos de toneladas) e em poupanças de +20% nos custos, mesmo com tracção dupla. Os vossos números são iguais?

Carlos Vasconcelos – Não esperamos aumentos em capacidade de tonelagem por comboio em tracção simples, porque não está prevista qualquer intervenção de redução de pendentes. A intervenção planeada incide sobretudo no aumento dos pontos de cruzamento e na renovação da linha, recuperando os níveis de segurança e aumentando a capacidade em quantidade de comboios que podem circular, permitindo o aumento de comprimentos até 750 m.

Um aumento do número de comboios a circular numa linha terá seguramente um efeito de maior produtividade na infraestrutura, mas não sabemos se isso se irá repercutir numa redução da taxa de uso actualmente praticada pela IP. No caso dos comboios, sendo a sua maioria limitada pela capacidade de tracção da locomotiva, não esperamos conseguir aumentos de produtividade, porque as pendentes não serão reduzidas.

Poderemos esperar melhorias de competitividade em comboios cuja limitação actual é pelo comprimento, mas tal não corresponde à generalidade dos comboios.

O facto do aumento do comprimento nos permitir realizar alguns comboios em múltipla, poderá melhorar a competitividade, mas como não sabemos quanto pretende a IP cobrar pela utilização da linha renovada não conseguimos à data determinar o impacto nos custos futuros do transporte.

T&N – Quais serão as alternativas a utilizar pela Medway, durante o encerramento da Linha da Beira Alta?

Carlos Vasconcelos – A alternativa consiste na Linha da Beira Baixa, ligando à Linha do Norte no Entroncamento. Actualmente já há comboios a serem desviados pela Linha da Beira Baixa devido ao aumento das interdições parciais na Linha da Beira Alta para obras, apesar de não estarmos a receber qualquer compensação pelo aumento de custos sentidos nestes comboios.

T&N – Quantos comboios fazem atualmente pela Linha da Beira Alta?

Carlos Vasconcelos – Em média fazemos 16 comboios por semana, a que acrescem os de transporte de materiais de via para as obras em curso.