A mais longa viagem em comboio do mundo começa em Portugal? Há que tempos, agora está é maior
31/12/2021 10:01 - Público

Linha férrea de 414 quilómetros construída entre o Laos e a China aumentou a distância da maior viagem de comboio do mundo que antes terminava no Vietname e agora permite chegar a Singapura. Agora é so escolher onde a começar em Portugal.

A mais longa viagem em comboio do mundo começa em Portugal? Há que tempos, agora está é maior

Não consta que alguém a tenha realizado nos últimos dois anos devido às restrições da pandemia. Mas a “construção” virtual da maior viagem de comboio do mundo – de que já dávamos conta há uns anos –, com o detalhado estudo dos percursos, horários, transbordos e tipos de comboios, continua a alimentar bloggers e as revistas de viagens.

Uma nova vaga de artigos nestes meios surgiu recentemente a propósito da inauguração, em 2 de Dezembro, de uma via férrea de 414 quilómetros entre Boten e Vientiane, que atravessa o Laos, precisamente entre a fronteira chinesa e a fronteira com a Tailândia.

Esta linha, financiada pela China no âmbito da Nova Rota da Seda, permite assim “coser” um elo em falta na ferrovia do Sudoeste Asiático porque agora passa a ser possível continuar sobre carris, vindo da China, até à Tailândia e Singapura.

Antes, a viagem de comboio mais comprida do mundo terminava no Vietname.

Mark Smith, um influente blogger de viagens também conhecido pelo Homem do Lugar 61 (The Man in Seat 61), calculou em 18.646 o número de quilómetros desta viagem. Mas esta precisão ferroviária depende do percurso utilizado, coisa com o qual nem todos os autores estão de acordo.

Acresce que a pandemia trocou as voltas a estes cálculos. A travessia da Rússia é agora mais difícil devido às restrições e, na Península Ibérica, a suspensão do Sud Expresso, que permitia fazer a viagem de Lisboa a Paris com apenas dois comboios, levou a que este percurso se faça agora com seis composições.

A etapa inicial até Paris, que antes demorava 26 horas, demora agora 30 horas e meia, sendo necessários seis comboios em vez de dois. Não por acaso o Homem do Lugar 61 se refere ao fim das relações internacionais (Sud Expresso e Lusitânia Expresso) como a balcanização da Península Ibérica. Em termos ferroviários, claro.

Por outro lado, teoricamente, é possível fazer esta rota do Atlântico ao Índico sem prestar vassalagem a Paris se se apanhar o comboio nocturno que liga Nice a Moscovo. Mas que – lá está! – se encontra suspenso devido à pandemia.

Há ainda que discuta se a rota mais curta não seria pelo Cazaquistão em vez de se apanhar o Transiberiano entre Moscovo e Pequim (de onde depois se prossegue pela China até ao Laos, Tailândia e Singapura).

Mas o que não mudou nada foi o início da viagem. A estação de Lagos bem que poderia ostentar uma placa a assinalar o início ou o terminus da mais longa viagem de comboio do mundo. Mas também é certo que Vila Real de Santo António, Cascais ou até o Pocinho poderiam reivindicar tal distinção. É tudo uma questão de critérios.

Desde o Algarve, se se apanhar o comboio em Vila Real de Santo António, a mais longa viagem ferroviária do mundo fica 49 quilómetros mais comprida do que a partir de Lagos.

Se a opção for de qualquer ponto do território português, então será a estação do Pocinho, curiosamente a escassos 30 quilómetros da fronteira espanhola, mas que exige uma volta pelo Porto para alcançar o Entroncamento de onde parte a automotora que todos os dias faz uma ida e volta a Badajoz.

Mas se o critério for a estação ferroviária mais ocidental da Europa continental, então essa é, claramente, Cascais que fica um grau a Oeste de Lagos, mas que, nesse caso, retira 300 quilómetros ao percurso que deixaria de começar no Algarve.

Por isso, entre os bloggers é consensual que será no Barlavento algarvio que começa a viagem de comboio mais longa do mundo.