“Uma empresa como a CP não pode funcionar como uma repartição do Estado”, diz ex-presidente
20/10/2021 10:44 - Observador

Presidente demissionário da CP defende a necessidade de sanear dívida e devolver a autonomia de gestão para a empresa responder à concorrência privada na ferrovia.

“Uma empresa como a CP não pode funcionar como uma repartição do Estado”, diz ex-presidente

Uma empresa como a CP “não pode funcionar como uma repartição instrumental do Estado”, defendeu o ex-presidente da empresa esta terça-feira no Parlamento. Nuno Freitas está a ser ouvido na comissão de economia e obras públicas sobre as razões que o levaram a demitir-se da presidência da operadora ferroviária a poucos meses do final do mandato.

Na sua intervenção inicial, o gestor destacou que a presidência da CP “exige enormes sacrifícios pessoais e profissionais”. Afirmou que aceitou o convite do ministro Pedro Nuno Santos porque acreditou que conseguia inverter o rumo descendente dos caminhos de ferro e porque é um ferroviário. O trabalho feito no mandato permite que o Governo possa decidir em 10 anos (quando termina o atual contrato de concessão) o quer fazer da empresa e prepará-la para a concorrência que deve começar já a ser preparada.

Nuno Freitas defendeu que a CP será uma empresa determinante para Portugal cumprir as metas de descarbonização, “mas se não puder concorrer em iguais circunstâncias, tudo isto irá perder-se”. E tudo isto passa pelas vários objetivos que afirma ter cumprido no seu mandato, desde a estabilização da operação que estava em rotura, passando pela reintegração da Emef na CP que “deu músculo” ao grupo e pela devolução aos trabalhadores o “orgulho em ser ferroviário”.

Sem se referir às queixas que o ministro da tutela fez dos travões no Ministério das Finanças — necessidade de autorização para comprar rodas — , Nuno Freitas frisou que quando foi assinado o contrato de concessão de serviço público em 2020 houve o compromisso de sanear a dívida histórica. Esse compromisso só deverá ser cumprido em 2022 — já depois da saída de Nuno Freitas — se a proposta orçamental que prevê 1,8 mil milhões de euros para este fim for aprovada.

Apesar da defesa da CP como empresa pública, o gestor defendeu que é importante retirar a CP do perímetro orçamental do Estado para que a gestão possa ser eficiente e escrutinável. Sobre as razões que o levaram a não completar o mandato como presidente da empresa, Nuno Freitas faz a comparação com um empreiteiro que termina a obra mais cedo que o previsto e que não fica à espera para a entregar.