Certificação atrasa entrada ao serviço das carruagens que a CP comprou à Renfe
18/01/2022 11:07 - Público

Pedido de certificação deu entrada em Março de 2021, mas só dentro de dois meses as primeiras três carruagens estarão habilitadas a fazer serviço comercial.

Certificação atrasa entrada ao serviço das carruagens que a CP comprou à Renfe

A CP já recuperou as primeiras três das 50 carruagens que em 2020 comprou à sua homóloga Renfe, mas o processo de certificação, que já dura há dez meses, tem impedido que aquele material se estreie nos carris portugueses para fazer serviço comercial.

Segundo fonte oficial da empresa, a certificação daquelas carruagens está a ser realizada pela Associação Portuguesa para a Normalização e Certificação Ferroviária, (APNCF) desde Março do ano passado, mas só em Dezembro é que foi realizada a verificação em oficina do veículo-tipo, devendo o relatório final estar concluído durante este mês.

“Previsivelmente, a entrega das primeiras carruagens aponta para o final do primeiro trimestre de 2022”, diz a CP. Depois, “prevê-se a entrega de três conjuntos de três carruagens (1.ª classe + mista + 2.ª classe), sendo que as restantes carruagens serão entregues com uma cadência de três unidades a cada dois meses”.

A mesma fonte explica que a “certificação é um processo complexo e neste caso estamos perante a primeira homologação realizada após a obrigação de registo no balcão único da ERA [Agência Ferroviária da União Europeia]”.

Apesar de grande parte destas carruagens ter estado em circulação até pouco tempo antes de serem vendidas à CP, foram alvo de uma remodelação profunda que exige certificados para que possam ser colocadas ao serviço com segurança. A certificação deverá demonstrar de forma documentada e inequívoca que cumprem todas as regras quanto à resistência aos incêndios, insonorização, habitabilidade e protecção química, entre outros aspectos. Por outro lado, levaram equipamentos de climatização novos, o que obriga a afastar quaisquer dúvidas sobre se as suas frequências electrónicas não interferem com a sinalização.

Entre os operários e engenheiros das oficinas de Guifões, onde este material foi recuperado, há alguma impaciência com o tempo que se está a perder em “papéis” depois do trabalho realizado nas carruagens, que as puseram como novas. Mas, ao nível europeu, aumentaram os requisitos e a exigência sobre a certificação do material circulante, para os quais a própria Associação Portuguesa para a Normalização e Certificação Ferroviária também não estava preparada.

As 50 carruagens espanholas foram compradas por 1,5 milhões de euros, o que dá uma média de 30 mil por cada uma. A operação de recuperação deixou apenas a estrutura (caixa metálica), os rodados e alguns equipamentos. Tudo o resto – assentos, casas de banhos, ar condicionado, iluminação, sistema de informação ao cliente – foi montado de novo. Depois de pintadas, ficaram como novas e aptas a circular a 200 km/h. Se fossem compradas a um fabricante, custariam entre um e 1,5 milhões de euros.

António Costa, que em Julho passado visitou as oficinas de Guifões, disse que os 95% de incorporação nacional neste processo de recuperação são um exemplo de “reindustrialização do país”.

Só falta agora a “papelada” para que as carruagens sejam postas ao serviço. A CP prevê introduzi-las na Linha do Minho e, à medida que mais unidades forem saindo da oficina, afectá-las à frota dos Intercidades.

Comboio do Tua também aguarda certificação

Também o comboio que o empresário Mário Ferreira comprou para a Linha do Tua não ultrapassou ainda a fase de certificação. Cinco anos depois, e apesar de alguns testes já realizados, a composição não tem autorização do IMT (Instituto da Mobilidade e dos Transportes) para poder operar, pois tem problemas ao nível da frenagem, rodas demasiado pequenas e o próprio motor da locomotiva tem pouca potência, ou seja, poderia estar em circulação num parque de diversões, por exemplo, mas não numa linha da rede nacional. Mesmo em via estreita, como é o caso da do Tua, qualquer comboio terá de cumprir critérios rigorosos para fazer serviço comercial em segurança.