Comboio ligará Porto e Lisboa em duas horas (sem paragens) em 2028
28/09/2022 13:04 - Público
Plano para a alta velocidade prevê nova estação em Santo Ovídio (Gaia) e nova ponte rodo-ferroviária sobre o Douro. Viagem de 1h15 (sem paragens) só depois de 2030.
O comboio de alta velocidade vai ligar Lisboa e Porto em 1h15, sem paragens, ou 1h45, incluindo três paragens, daqui a uma década. O programa de modernização da ferrovia, que nesta quarta-feira foi mais uma vez apresentado, prevê um investimento faseado na alta velocidade (AV). O que significa que também os ganhos chegarão por etapas. O primeiro ganho será obtido em 2028, no fim da primeira fase, em que a ligação entre Lisboa e Porto em AV demorará 1h59 (sem paragens).
O plano é que as obras arranquem em 2024 e parte delas será feita num modelo de contratação que prevê três concessões. O que, na prática, implica o envolvimento de privados e significa, tal como ficou patente na apresentação, partilha de serviços entre a nova linha de AV e a rede convencional.
Desta vez, a apresentação dos projectos aconteceu no Porto. E, apesar de não haver muitas novidades, a comitiva foi chefiada pelo primeiro-ministro, António Costa, e pelo ministro das Infra-Estruturas, Pedro Nuno Santos. O primeiro garantiu haver condições para uma modernização “sem sobressaltos”. O segundo falou numa “revolução” — e disse-o duas vezes.
“O país tem hoje condições financeiras para poder assumir este projecto com tranquilidade”, garantiu o chefe do Governo. O ministro, por seu lado, salientou a ideia de que os ganhos da nova linha de AV se vão repercutir no transporte ferroviário de e para muitas outras cidades do país. “Estamos a encolher o país”, enfatizou.
Exemplos: pelas contas apresentadas, a ligação de Lisboa à Guarda ficará 47 minutos mais rápida e ao Porto encurtará 1h19. Gaia fica a 12 minutos do aeroporto, deslocação que pode demorar para cima de uma hora, nesta altura, por transporte público; entre Porto e Abrantes, a viagem encurtará 56 minutos; a viagem às Caldas da Rainha demorará menos 1h35 desde o Porto. Isto porque se pretende que a ferrovia AV esteja “articulada” com a rede convencional.
As novidades são poucas no plano apresentado no Terminal Minho e Douro da estação de Campanhã, no Porto. Haverá uma nova estação para a AV em Vila Nova de Gaia, a construir em Santo Ovídio; a ponte rodoviária actualmente pensada pelas autarquias do Porto e de Gaia também servirá a nova linha de AV; e o modelo de concretização dos investimentos incluirá três concessões.
Tudo o resto já era conhecido e pouco mais avança face ao que já se sabia por exemplo desde Março, quando a Infra-Estruturas de Portugal (IP) apresentou o programa para a alta velocidade numa sessão no LNEC, em Março, a poucos dias da tomada de posse do actual Governo.
Carlos Fernandes, vice-presidente da IP, enfatizou a necessidade de Portugal ter uma nova linha de AV, em via dupla, para retirar o transporte de passageiros de médio/longo curso da actual linha do Norte, que está mais do que esgotada em alguns troços. Mas tal projecto exige um enorme investimento, pelo que se avançará em três fases. O que equivale a dizer que os ganhos nos tempos de viagem face aos actuais também chegarão desfasados no tempo.
As obras da primeira fase começarão em 2024 e concluem-se em 2028. Custarão quase 3 mil milhões de euros (com mil milhões a vir da UE) e serão subdivididas em duas etapas: Porto-Aveiro (Oiã), por 1650 milhões de euros; e Aveiro-Soure (1300 milhões).
Nova ponte com dois tabuleiros
Nesta fase, inclui-se a construção de uma nova ponte sobre o Douro, que já estava pensada pelas câmaras de Porto e Gaia, e que vai afinal vai ter dois tabuleiros para servir tanto a ferrovia (tabuleiro superior) como o transporte rodoviário (tabuleiro inferior).
Também inclui a nova estação de Gaia (Santo Ovídio) e a adaptação da estação de Aveiro para a linha de AV, que será em bitola ibérica. A actual estação de Coimbra-B dará lugar a uma nova para este desígnio.
No fim da fase 1 (em 2028, se não houver atrasos), a viagem entre Porto e Lisboa demorará 1h59, segundo as estimativas actuais. Esse tempo de percurso não inclui as paragens.
A fase 2 incidirá no percurso entre Soure e Carregado. As obras decorrerão entre 2026 e 2030 e estarão orçadas em 1500 milhões de euros. Com esta parte concluída, o trajecto entre Lisboa e Porto pode ser cumprido em 1h19, sem incluir as paragens (com três paragens — Leiria, Coimbra e Aveiro — poderá rondar mais 30 minutos).
A fase 3 completará o projecto, mas não há qualquer calendário específico. A indicação da IP é que será depois de 2030. Inclui o troço Carregado-Lisboa, que tirará mais quatro minutos à viagem de AV entre as duas principais cidades portuguesas. Ou seja, Portugal está a uma década de distância de ter Lisboa e Porto ligadas por comboio de AV em 1h15 (sem paragens) ou 1h45 (com as já mencionadas três paragens).
Lisboa verá a actual estação do Oriente com mais três linhas para a AV. E terá ainda um novo terminal técnico. A perspectiva da IP é a de que todo o programa permita triplicar o actual número de serviços ferroviários entre Lisboa e Porto, passando dos actuais 25 para 77. Em termos de passageiros, isto significa que se estima manter os actuais seis milhões de passageiros e acrescentar-lhes mais dez milhões.
Porto-Vigo em duas fases
O programa inclui uma nova ligação entre Porto e Vigo, a avançar em duas fases. A fase 1, entre 2026 e 2030, inclui a ligação em túnel de Campanhã ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro e a ligação Braga-Valença, sem paragens. Isto permitirá reduzir o tempo de viagem entre Porto e Vigo para uma hora. A obra custará cerca de 900 milhões de euros, segundo cálculos que o PÚBLICO já tinha divulgado em 2020.
A fase 2 contempla a ligação do aeroporto a Nine, o que reduzirá aquele tempo de viagem para 50 minutos. Isto custará outros 350 milhões.
O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, serviu de anfitrião desta apresentação, mas decidiu expressar-se como porta-voz de uma “geração”, ao lamentar os atrasos do país na ferrovia. “Ao contrário de outros países, como a Espanha aqui ao lado, adiámos muito tempo as grandes decisões da ferrovia (...). Este é um grande dia, em que vamos ver finalmente nascer aquilo que para a minha geração é uma esperança sempre adiada.”