Alstom: “O Porto é um grande pólo industrial com oportunidades muito grandes”
14/09/2022 11:00 - Público

"Temos uma fé muito alta nos planos de mobilidade sustentável e digitalizável de Portugal”, diz David Torres, director-geral da Alstom Portugal.

Alstom: “O Porto é um grande pólo industrial com oportunidades muito grandes”

Tecnologia pura e dura. Muita engenharia, investigação, desenvolvimento e inovação. É desta forma que David Torres, director-geral da Alstom Portugal, define o centro que a sua empresa inaugura na Maia, mas do qual não quis revelar o montante do investimento.

“Começamos com 25 engenheiros que vão trabalhar num centro dividido em duas partes: uma com laboratórios dotados com tecnologia de ponta e outra com um armazém destinado à gestão de proximidade de projectos”, diz. Enquanto a primeira parte é mais imaterial e se destina a criar e a inovar na área da engenharia, a segunda pretende ser uma unidade de manutenção e reparação de componentes de sinalização ferroviária e de equipamentos de comboios.

David Torres diz que a decisão de instalar este centro na Maia deve-se “à ligação muito forte da Alstom com o Porto”, recordando que há 102 comboios do Metro do Porto que são da sua empresa, bem como todo o sistema de sinalização e telecomunicações que faz com que o metro funcione em segurança. “E também consideramos que o Porto é um grande pólo industrial com oportunidades de desenvolvimento muito grandes”, diz. Uma das iniciativas previstas é desenvolver programas de mestrado com a Universidade do Porto.

A Alstom, em parceria com a DST, é uma das empresas que responderam ao concurso da CP para o fornecimento de 117 comboios. O caderno de encargos atribui uma elevada ponderação ao fabrico dos comboios em Portugal. David Torres diz que “a nossa ambição é sermos o fornecedor dessa encomenda”, mas instado a responder onde poderão ser construídos os comboios caso ganhe o concurso, diz que prefere não o divulgar. Actualmente, na Península Ibérica a Alstom possui uma fábrica em Barcelona (que é uma das maiores desta multinacional francesa) e outra em Trapagaran (País Basco), além de um centro tecnológico em Madrid. “Mas nós somos uma empresa global que se transforma em local em cada um dos projectos em que trabalhamos”, assegura.

O renovado interesse da Alstom por Portugal tem a ver com as promessas do Governo em apostar na mobilidade. David Torres diz que a empresa está há 30 anos no país e reconhece que tem havido altos e baixos de acordo com os ciclos de investimento, mas acredita que “este é um novo capítulo de desenvolvimento da ferrovia e da mobilidade e temos uma fé muito alta nos planos de mobilidade sustentável e digitalizável de Portugal”. Destaca, naturalmente, o concurso dos 117 comboios, a alta velocidade (com tudo o que isso implica em termos de material circulante e equipamentos de ponta ao nível da sinalização e das telecomunicações), bem como os projectos para os metros do Porto e de Lisboa.

“Queremos estar em todos pois como líder no sector temos a ambição e a responsabilidade de ajudar. E queremos que este centro de inovação na Maia seja uma referência mundial pois não se destina só ao mercado português. Queremos exportar engenharia e exportar projectos”.

Mas, no entretanto, há questões concretas que carecem de resolução. Ao ter comprado a Bombardier, a Alstom tornou-se proprietária do Convel (Controle de Velocidade), o sistema de segurança dos comboios portugueses. Trata-se de um produto que já estava a ser descontinuado e que tem deixado os operadores ferroviários portugueses à beira de um ataque de nervos por não terem como equipar novos comboios com aquele sistema. Por exemplo, a Medway possui uma locomotiva em Espanha que não pode circular em Portugal por falta de Convel.

David Torres diz que o centro a inaugurar na Maia vai disponibilizar uma solução Convel Dual que permite resolver este problema e prepara já a migração para o ERTMS nível 1, que é o Sistema Europeu de Gestão de Tráfego Ferroviário.