Maior compra de comboios da história da CP tem seis candidatos
21/02/2022 14:55 - Público

Alemães, chineses, espanhóis, franceses, japoneses e suíços apresentaram propostas para vender 117 comboios à CP.

Maior compra de comboios da história da CP tem seis candidatos

Praticamente todos os fabricantes mundiais de relevo da indústria ferroviária responderam ao concurso da CP para a compra de 117 comboios eléctricos destinados aos serviços suburbanos e regionais. Da Europa apresentaram-se os suíços da Stadler (que ganharam o último concurso da transportadora pública para fornecer 22 automotoras de serviço regional), os franceses da Alstom (empresa que incorpora agora a canadiana Bombardier), os espanhóis da CAF e ainda um consórcio formado pelos alemães da Siemens e os espanhóis da Talgo.

Do resto do mundo, a empresa estatal chinesa CRRC Tangshan e a japonesa Hitachi Rail estão também interessadas em produzir os comboios da CP, sendo que, de acordo com o caderno de encargos, pelo menos a montagem das composições deverá ser feita em Portugal.

A montagem é o mínimo que os fabricantes deverão assegurar em Portugal. O concurso valoriza ainda mais dois patamares de incorporação nacional: a assemblagem, que já inclui o fabrico de peças e das próprias caixas das carruagens e, por fim, o fabrico completo dos comboios em Portugal.

Os concorrentes são, assim, estimulados a instalarem-se no país, ainda que provisoriamente, devendo construir uma oficina ou fábrica ao lado das instalações da CP em Guifões, a qual passará a pertencer à empresa após a entrega do último comboio.

O caderno de encargos também pontua a incorporação de mão-de-obra nacional, valorizando a criação de primeiro emprego e a contratação de desempregados de longa duração e de pessoas com deficiência.

Apesar destes critérios, só um dos fabricantes é que aparece com uma proposta em parceria com uma empresa portuguesa. Trata-se da Alstom que forma um consórcio com a DST (Domingos da Silva Teixeira).

Ao PÚBLICO, Pedro Moreira, presidente da CP, diz que, para além do benefício óbvio de tentar ressuscitar a indústria ferroviária nacional, há ainda outras vantagens em se fabricar em Portugal. “Pela experiência que temos, se a produção for feita em Portugal, podemos acompanhar com grande proximidade todas as fases de fabrico, o que nos dará um conhecimento técnico das novas unidades que nos vais ser muito útil para as intervenções de manutenção preventiva e correctiva”, sublinha.

Dos seis candidatos é sem surpresa que se assiste à proposta da Stadler, que ganhou o último concurso da CP e deverá começar a fabricar as primeiras unidades na sua fábrica em Valência, bem como às do gigante europeu Alstom e da empresa basca CAF. Inesperada é a parceria entre a Siemens e a Talgo, das quais se esperavam candidaturas separadas. A Hitachi Rail é uma estreante em Portugal no fornecimento de comboios (já forneciam componentes) e a CRRC tenta agora uma segunda vitória depois de ter ganho o concurso do Metro do Porto para fabricar 18 comboios.

Desta vez - e ao contrário do que aconteceu no concurso anterior da CP que exigia que os candidatos já tivessem material seu em circulação na Europa -, os chineses não tiveram quaisquer obstáculos à sua participação.

O júri do concurso tem até finais de Março para analisar as propostas e ver se cumprem os requisitos para se manterem na corrida, devendo, na ausência de impugnações ou adiamentos, a decisão ser tomada em Setembro para que possa haver adjudicação até Dezembro de 2022.

Se o calendário se cumprir, o primeiro comboio deverá ser entregue à CP 40 meses depois da adjudicação, ou seja, em meados de 2026, devendo seguir-se entregas de três comboios por mês até meados de 2029. Um ritmo intenso pois cada composição deverá ter três carruagens, o que significa fabricar uma carruagem em pouco mais de três dias durante três anos.

Pedro Moreira diz que não há margem para atrasos pois o financiamento comunitário termina em finais de 2029. “Temos cerca de seis meses de almofada, mas podem ocorrer atrasos que não controlamos, nomeadamente ao nível da obtenção do visto do Tribunal de Contas e de eventuais tentativas de impugnação”, diz o gestor, lembrando que no último concurso para as 22 automotoras regionais a impugnação por parte de um dos concorrentes atrasou o processo em dois anos. “Poderíamos estar a receber dentro de meses as primeiras unidades, mas agora só em 2025 e 2026 é que os comboios serão entregues”, explica.

O concurso prevê ainda que a manutenção das 117 unidades seja feita pela CP a partir do primeiro dia da entrega, ao contrário do que acontece com o actual fornecimento da Stadler que é obrigada a assegurar a manutenção do material durante quatro anos.

O presidente da CP, ele próprio um engenheiro ligado à manutenção ferroviária, diz que a empresa possui know how e experiência suficientes para assegurar essa valência, o que ajuda a embaratecer as propostas dos fabricantes.

Por outro lado, o caderno de encargos valoriza quem propuser uma extensão da garantia para além dos habituais dois anos. Quantos mais anos de garantia, mais pontos no concurso, o que significa que, ao aceitar um prazo maior, o concorrente deverá estar seguro de que está a entregar comboios verdadeiramente fiáveis.

O júri do concurso tem como presidente um jurista da Cuatrecasas, o mesmo escritório de advogados que já assessorou a CP no último concurso de material circulante. Os restantes elementos são todos da empresa: dois elementos ligados à Engenharia da CP, um da área financeira e outro jurídico.