Chineses e franceses comprometem-se a instalar fábrica de comboios em Portugal
01/04/2022 10:18 - Público
No âmbito da venda de 117 comboios à CP, CRRCL diz que “Portugal apresenta condições únicas para o desenvolvimento da nossa actividade industrial” e Alstom garante que “está no nosso ADN assumirmos um forte compromisso industrial nos países onde actuamos”.
Com que comboios vão concorrer em Portugal? Qual o grau de incorporação nacional no projecto? O que vos distingue da concorrência? O PÚBLICO contactou os seis concorrentes – Alstom, CAF, CRRC, Hitachi, Siemens/Talgo e Stadler – ao concurso da CP sobre as suas propostas para a ferrovia nacional, mas só três responderam e só dois assumiram uma intenção implícita de fazer uma fábrica de comboios em Portugal.
No caso dos CRRC, o facto de já terem ganho um contrato para o fornecimento de 18 veículos para o Metro do Porto, leva-os a afirmar que “o nosso compromisso só poderá ser reforçado perante o desafio lançado pela CP” de apresentar uma forte incorporação nacional. “Faz parte do nosso plano o estabelecimento em território nacional e já foi dado o primeiro passo com a criação, no final de 2021, da Portugal CRRC”, diz Manuel Moura, que representa aquela empresa.
O mesmo responsável diz que “fazer parte do impulso de industrialização que se quer dar ao sector está certamente no horizonte e daremos todos os passos nesses sentido, pois Portugal apresenta condições únicas para o desenvolvimento da actividade industrial da CRRC e o concurso da CP é fundamental nesse sentido”.
Já a Alstom diz que “está no nosso ADN assumirmos um forte compromisso industrial e tecnológico nos países onde actuamos”. David Torres, responsável em Portugal desta multinacional de origem francesa, diz que “a Alstom, como companhia líder, tem a vocação e a responsabilidade de ser uma empresa local em todos os mercados onde actua”, não sendo Portugal excepção.
Esta empresa está presente em 70 países “gerando emprego, indústria, inovação e desenvolvimento tecnológico e este é também o nosso compromisso com Portugal”. David Torres recorda que “somos o único fabricante que se apresentou em consórcio com uma [empresa] local, a DST, o que por si só é uma demonstração clara do nosso compromisso”.
Acerca da eventual incorporação nacional, a CAF diz que não quer divulgar pormenores da sua candidatura, mas deixa um recado: “ao contrário de certas empresas do sector que externalizam o fabrico de material circulante em países da Ásia, Europa de Leste, etc., a CAF, nos últimos anos, tem apostado em unidades de produção em países europeus”, de que são exemplo as suas recentes fábricas em Newport (Reino Unido) e a compra da fábrica da Alstom em Reichshoffen (França).
“Estas fábricas, além das que já temos em Espanha, demonstram a aposta decidida de CAF pela produção na Europa e criação de emprego, Investigação & Desenvolvimento e know-how a nível local”, diz Iñaki Escrig, daquela empresa.
Quanto ao comboio que vão apresentar à CP, nem a Alstom nem a CRRC especificou nenhum, em concreto, do seu portefólio. A empresa francesa diz que “somos o líder mundial de comboios regionais e de proximidade, possuindo mais de 30 anos e mais de 12 mil comboios deste tipo em circulação em mais de 20 países”. Em curso tem o fornecimento de 153 comboios suburbanos a Espanha, 150 comboios em Itália, 200 à Noruega e 146 para a região parisiense em França. E destaca que tem “um profundo conhecimento da rede ferroviária portuguesa”, pois “dois em cada três comboios em circulação em Portugal possuem tecnologia Alstom”.
A CRRC Tangshan reconhece que tem sido sobretudo um fabricante de comboios de alta velocidade, “mas nos últimos anos, atendendo às necessidades de mobilidade das cidades de média dimensão na China, temos vindo a desenvolver plataformas para veículos de serviço urbano e regional”, possuindo no seu portefólio “uma plataforma perfeitamente ajustada às necessidades identificadas pela CP”.
Já a CAF mencionou os comboios Civia, desenhados expressamente para os suburbanos da Renfe e os TEMD s/449 para o serviço regional espanhol, ou ainda a plataforma Civity, que serviu de base aos comboios regionais que a empresa basca vendeu para a Holanda e sobre a qual também tem projectos em curso para a França e Suécia. Esta deverá ser também a plataforma apresentada para Portugal.
A Hitachi, Stadler e Siemens/Talgo responderam ao PÚBLICO que, por o concurso se encontrar numa fase preliminar, preferem não prestar declarações.
Dos 117 comboios que a CP quer comprar, 63 destinam-se ao serviço suburbano e 55 ao serviço regional. O caderno de encargos prevê uma elevada pontuação para as propostas que incluíram maior incorporação nacional e define que o fabricante construa uma nave industrial para, no mínimo, fazer a montagem dos veículos. O preço base do concurso é de 819 milhões de euros.