CP poupa dois milhões de euros com devolução de automotoras a Espanha
08/02/2022 17:32 - Público

Recuperação de material circulante permitiu à empresa devolver seis das 24 automotoras que alugou à Renfe

CP poupa dois milhões de euros com devolução de automotoras a Espanha

A CP devolveu em Janeiro mais duas automotoras da frota de 24 que alugou à Renfe. Em Dezembro de 2020 já tinham sido devolvidas as duas primeiras, a que se seguiram mais duas em 2021.

A empresa paga 320 mil euros por ano pelo aluguer de cada automotora a diesel da série 592 que circulam nas linhas do Minho, Douro e Oeste. A redução de 24 para 18 permite à empresa poupar 1,9 milhões de euros por ano.

Este valor não é líquido, uma vez que a substituição das automotoras por composições formadas por locomotiva mais carruagens obriga a mais um tripulante, pois o maquinista tem de ir acompanhado com mais um agente no apoio à condução. Mas, por outro lado, as recém-recuperadas carruagens Schindler têm menos custos de manutenção do que as automotoras, por não possuírem praticamente componentes electrónicos.

A devolução das automotoras à Renfe só foi possível devido à reabertura das oficinas de Guifões e à recuperação de locomotivas e carruagens que estavam imobilizadas.

No Douro, as “camelas” (assim designadas pelos ferroviários, por terem no tejadilho uns equipamentos do ar condicionado que parecem bossas) têm vindo a ser substituídas por locomotivas a diesel modelo 1400 que rebocam carruagens Schindler ; e, no Minho, a electrificação permitiu que a empresa introduzisse na operação locomotivas eléctricas modelo 2600 também salvas de uma morte lenta porque estavam imobilizadas.

O ritmo de recuperação de carruagens vai permitir à empresa devolver até ao fim deste ano mais duas a quatro automotoras, o que se traduzirá numa poupança adicional de 640 mil euros a 1,3 milhões de euros.

Há ainda outra vantagem: por cada automotora devolvida, a CP recupera-lhe o “convel”, um importante equipamento de controlo de velocidade que é raro, porque foi descontinuado pelo fabricante.

As primeiras “camelas” (correctamente designadas por UTD 592) foram alugadas pela CP à Renfe em 2010, destinadas a suprir a falta de material nas linhas do Douro e Minho enquanto a empresa ia retirando material da operação. Em 2015, a CP chegou mesmo a pôr à venda 26 locomotivas, 30 carruagens e 15 automotoras, mas não apareceram compradores. Nesse mesmo ano, a CP demoliu 15 automotoras a diesel.

Para a Renfe, o aluguer das automotoras foi um bom negócio, dado que este material estava também já em fim de vida útil. As 592 foram construídas entre 1981 e 1984 pelas empresas espanholas Macosa e Ateinsa e circularam em praticamente toda a rede da Renfe, assegurando o serviço regional até serem substituídas por material mais moderno.

Apesar de terem sofrido uma revisão geral antes de virem para Portugal, as “camelas” tiveram no início vários problemas técnicos. Chegou a cair um motor à linha devido à quebra de um veio de transmissão. Do ponto de vista dos passageiros, não são muito confortáveis, devido às vibrações e ao elevado ruído.

Também não são muito rápidas – estão limitadas a 120 km/h. E, do ponto de vista ambiental, só se pode dizer que são sustentáveis se transportarem muitos passageiros, porque gastam 228 litros de gasóleo aos 100 quilómetros. Infelizmente, não é o caso, sobretudo na Linha do Oeste, onde andam praticamente vazias, devido à fraca procura.

A CP tem presentemente afectas cinco unidades ao Douro, sete ao Oeste e três ao Minho, sobrando-lhe ainda três para eventuais emergências. Só desaparecerão totalmente das linhas do Douro e do Oeste quando estas forem electrificadas, mas na Linha do Minho, que já está electrificada desde Abril do ano passado, ainda se mantêm apenas para fazer o serviço internacional Porto-Vigo.

Apesar das vias-férreas da Galiza e do Minho já terem catenária, a tensão eléctrica é diferente nos dois lados da fronteira, pelo que são estas velhas automotoras a diesel a assegurar aquela ligação directa, o que é um paradoxo: o serviço supostamente mais nobre, por ser internacional, é o de pior qualidade, contrastando com o grau de conforto que a CP oferece no serviço regional e inter-regional, no lado português.