Linha do Vouga vai mesmo reabrir em toda a sua extensão e até poderá ter comboios a hidrogénio
03/02/2022 06:53 - Público
IP lançou concurso público para reabilitar o troço intermédio entre Oliveira de Azeméis e Sernada do Vouga.
Depois de uma morte anunciada (esteve previsto o seu encerramento total durante o governo da troika), a linha do Vouga renasce das cinzas e vai ser integralmente reabilitada, incluindo o seu troço central (Oliveira de Azeméis–Sernada do Vouga) que está sem serviço de passageiros devido ao mau estado da infra-estrutura.
A IP lançou um concurso público para a reabilitação integral daqueles 30 quilómetros de via férrea que prevê, na prática, a reconstrução da linha com “a substituição integral de carril, travessas e fixações, a balastragem de via e ataque mecânico pesado, bem como a automatização de passagens de nível”, de acordo com comunicado da empresa.
Sem serviço comercial, apenas ali circulam comboios de serviço para ir à manutenção nas oficinas de Sernada do Vouga, mas sujeitos à velocidade máxima de 10 km/h porque a infra-estrutura está tão degradada que, em alguns casos, os carris assentam directamente na terra porque as travessas de madeira estão podres.
A IP diz que o investimento estimado para estes 30 quilómetros é de “4,95 milhões de euros, ao qual se somarão os encargos relacionados com os materiais a aplicar”. A empresa refere também que o investimento global para os 96 quilómetros da linha do Vouga, entre Espinho e Aveiro será de 34 milhões de euros a executar de forma faseada até 2025. Um valor que é um terço do que está previsto no PNI2030, cuja ficha de projecto refere 100 milhões de euros de investimento a executar entre 2021 e 2025.
Neste momento já estão concluídas as obras de renovação entre Sernada do Vouga e Águeda (14 quilómetros) e estão em curso as do troço entre Oliveira de Azeméis e Vila da Feira (13 quilómetros).
Estes investimentos da IP, contudo, não prevêem quaisquer rectificações de traçado por forma a aumentar as velocidades dos comboios, limitando-se a repor as condições de circulação de há algumas décadas atrás. No fim de contas, trata-se de uma renovação integral de via e não de uma verdadeira modernização.
Em resposta a perguntas do PÚBLICO, a empresa diz que “esta intervenção permite obter melhorias a curto prazo e constitui-se como fase inicial da modernização da linha do Vouga, no âmbito do PNI2030”. A mesma fonte oficial refere que “a linha do Vouga deverá constituir-se como um eixo de mobilidade importante na região” e que “todas as intervenções e planos futuros são, naturalmente, articulados entre a tutela, o gestor de infra-estrutura, o operador e as autarquias”.
Há, porém, duas promessas que auguram um real interesse em que a linha preste um melhor serviço às populações. A IP diz que está a estudar “soluções alternativas de melhoria da ligação funcional do troço norte da linha do Vouga à linha do Norte, por forma a permitir o transbordo de passageiros na zona de Silvalde e sem prejudicar os actuais passageiros que têm como origem ou destino a cidade de Espinho”. É que, quando em 2008 se construiu a estação subterrânea de Espinho, a ligação entre a via estreita do Vouga e a linha do Norte (que antes coexistiam na mesma estação) ficou afastada 500 metros, contrariando as mais elementares boas práticas de interoperabilidade.
Daí a solução de fazer um pequeno desvio da linha do Vouga por forma a “tocar” o apeadeiro de Silvalde a fim de permitir o transbordo para os suburbanos do Porto.
A segunda promessa da IP é a “eventual relocalização de estações” por forma a responder às nova dinâmicas da região que tem pólos geradores de tráfego afastados das actuais estações e apeadeiros. O presidente da Câmara de Águeda, Jorge Almeida, tem referido várias vezes que há centros de saúde, escolas, centros comerciais e outros equipamentos públicos localizados ao lado da via férrea, cujas estações estão afastadas desses locais.
Comboios a hidrogénio
A electrificação da linha do Vouga não está em cima da mesa. Por parte do operador, a CP apresentou um projecto, em conjunto com outras entidades, que prevê a modernização das actuais automotoras com troca de motores diesel por células de combustível a hidrogénio. Uma conversão que, de acordo com fonte oficial da empresa, “ficará dependente da demonstração de viabilidade técnica e económica”.
A actual frota da linha do Vouga tem cerca de 30 anos. As automotoras foram fabricadas na Amadora, na então Sorefame, e entraram ao serviço em 1991 na linha da Póvoa, tendo sido afectadas ao Vouga em 2002. A CP diz que “podem ser alvo de intervenção profunda de modernização, o que permitirá estender o seu prazo de vida útil por mais 15 a 20 anos, operação que já foi estudada, existindo ainda algumas opções em aberto, a definir e concretizar em função da definição do âmbito das intervenções agendadas no PNI 2030 para a infra-estrutura ferroviária”.
A linha do Vouga é a última linha de via estreita do país, depois do encerramento das linhas de Trás-os-Montes. Após ter escapado ao encerramento em 2011, foi alvo de diversos estudos, mas nunca de investimentos que impedissem a sua degradação. Nos últimos anos a CP fez uma aposta estratégica no turismo ferroviário nesta linha, tendo promovido, apesar da pandemia, a realização de viagens em comboio histórico, quer com locomotiva a vapor, quer com uma locomotiva a diesel antiga.
De acordo com o PNI2030, “a manutenção de bitola métrica na linha do Vouga permite também manter e desenvolver a actividade de turismo ferroviário, com a circulação de comboios históricos e a valorização do património ferroviário”.