Algarve central – Faro, Olhão e Loulé – vai ter metro de superfície
11/01/2022 07:00 - Público

Aeroporto de Faro e universidade constituem o eixo principal do projecto que deverá ser conhecido antes do fim do mês. O valor estimado da obra, para servir 150 mil residentes, é de 110 milhões de euros.

Algarve central – Faro, Olhão e Loulé – vai ter metro de superfície

Um metro de superfície vai ligar a zona central do Algarve – Faro, Olhão e Loulé – onde se concentra o maior núcleo populacional da região, com cerca de 150 mil habitantes. O projecto deverá ser posto à discussão pública até final do mês, altura em que vão ser dados o conhecer os traçados previstos. O eixo principal deste projecto de mobilidade, a cargo de uma empresa da especialidade, passa pelo aeroporto e campus universitário de Gambelas, prevendo-se que possa ser alargado ao centro comercial AlgarveShopping e ao novo Hospital Central, no Parque das Cidades (Faro-Loulé). Numa região onde não existe uma rede de transportes públicos regionais acessível, a proposta é acolhida com agrado pelos autarcas e agentes económicos, já que a excessiva dependência do automóvel tem contribuído para o aumento da poluição da região, cada vez mais acentuada nas cidades e zonas turísticas.

O projecto-âncora, encomendado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR), está a ser desenhado para que possa constituir-se como um “eixo complementar” ao comboio existente, podendo, inclusive, vir a utilizar partes do actual traçado da via férrea. A verba estimada para obra, prevista na grelha dos novos fundos comunitários, é de 110 milhões para servir uma área de 35 quilómetros.

A Universidade do Algarve lançou, na quarta-feira à noite, um inquérito junto dos alunos destinado a avaliar a importância deste meio de transporte na comunidade escolar e na acessibilidade das camadas sociais mais desfavorecidas ao ensino superior. Nas 400 respostas, recolhidas nos dois primeiros dias, a conclusão é que quase 50% dos alunos deslocam-se de carro para as aulas. Os resultados finais serão conhecidos a meio desta semana. Com este questionário, a reitoria pretende conhecer o número de alunos deslocados, bem como o custo mensal que isso acarreta e as horas que se perdem nos movimentos pendulares. “A maior parte dos alunos está a responder que [caso tenha essa opção] tenciona mudar para transporte colectivo”, adiantou ao PÚBLICO o reitor Paulo Águas, sublinhando que só se consegue “a descarbonização reduzindo o transporte individual”. O campus das Gambelas, recordou, dispõe de cerca de mil lugares de estacionamento com lotação esgotada no período escolar. A universidade recebe mais de nove mil alunos.

O reitor dá um exemplo da falta de transportes públicos acessíveis e frequentes: “Uma grande percentagem dos estudantes de Albufeira [46 quilómetros de distância] aluga quarto em Faro [por não encontrar alternativa, a não ser o automóvel, para se deslocar.]” O comboio pára em Ferreiras, a seis quilómetros do centro da cidade. Situação idêntica verifica-se em Loulé, cuja estação situa-se nas Quatro Estradas, no meio do itinerário entre Quarteira e a centro administrativo do concelho.

Faro e Olhão são duas cidades que têm o caminho-de-ferro a passar no centro, mas o desenvolvimento urbanístico atirou uma grande percentagem da população para as zonas periféricas. O processo evolutivo de Olhão levou a que um troço da Estrada Nacional (EN 125) fosse convertido numa via urbana – passando a chamar-se Av. João VI. O que está previsto é que os fluxos de tráfego, no futuro, sejam desviados para a futura variante norte da cidade.

O presidente da Câmara de Olhão, António Pina (também presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve – Amal), defende o projecto, mas acha que ainda é prematuro falar em metro de superfície. “Pode ser comboio ou autocarro, através de um canal dedicado – o que importa é facilitar a mobilidade na zona central do Algarve”, enfatiza. Por outro lado, preconiza que o projecto seja “alargado a outros aglomerados numa segunda fase”.

O presidente da Câmara de Faro, Rogério Bacalhau, considera, por seu lado, que o projecto constitui, “sem dúvida, um factor de desenvolvimento para o Algarve”, permitindo a coesão territorial na zona central da região.

A Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), veio, em comunicado de imprensa emitido no final da semana passada, também salientar que a electrificação da linha do Algarve, anunciada pelo Governo, por si só, “não basta e nem irá resolver o grande problema de mobilidade na região”. Os empresários do sector turístico defendem “um novo tipo de comboios, mais ligeiros, tipo metro de superfície, adaptados ao transporte suburbano”, permitindo compatibilizar o comboio com o transporte rodoviário, sem esquecer o meio ciclável.

Do movimento Mais Ferrovia, José Caramelo, subscreve a opção pelo metro de superfície para resolver os problemas de mobilidade na zona central do Algarve, mas pensa que o assunto pode vir a descarrilar quando se começar a discutir traçados, “O poder local é bom mas impede a formulação de uma vontade regional”, observou.

O presidente da Câmara de Aljezur, José Gonçalves, sintetiza: “Não somos directamente beneficiários, mas reconhecemos a importância do metro de superfície como sendo um projecto estruturante para a região e gostaríamos que o discurso de apoio aos territórios de baixa densidade fosse além das boas intenções.”