Proposta da câmara para <em>metrobus </em>na Boavista obriga a duplicar estações
09/06/2025 15:01 - Público

Desenho articulado entre autarquia e Metro do Porto tinha estações no meio da via que serviam dois sentidos, mas eliminava ciclovia e árvores. São 210 mil euros apenas para rever projecto.

Proposta da câmara para <em>metrobus </em>na Boavista obriga a duplicar estações

As mudanças exigidas pela Câmara Municipal do Porto (CMP) às obras da segunda fase do metrobus trazem mais dúvidas que certezas. Na última semana, a Assembleia Municipal do Porto aprovou alterações a um projecto previamente desenhado com a Metro do Porto (que será a dona da obra), com o objectivo de preservar um troço de ciclovia e as linhas de árvores que o acompanham.

Se as implicações orçamentais, de calendário e de financiamento são ainda desconhecidas, a retirada do canal de metrobus do centro da avenida terá como consequência a duplicação das estações.

Em vez de uma estação ao meio para servir os dois sentidos (como acontece entre a Casa da Música e a Avenida Marechal Gomes da Costa), a mudança das vias de transporte público para as margens norte e sul da Boavista obriga a construir duas estações em cada ponto onde pára o metrobus, a seguir a Antunes Guimarães: Garcia de Orta, Nevogilde e Castelo do Queijo.

Questionada pelo PÚBLICO, a CMP refere apenas que, na sequência da decisão da Assembleia Municipal (convocada como consequência da petição lançada pelo candidato do PSD, Pedro Duarte), “o projecto do metrobus lançado a concurso deverá ser revisto”. Acrescenta ainda que compete à Metro do Porto “tomar as diligências tidas por convenientes”, para garantir que as decisões da Assembleia Municipal são respeitadas.

Por outro lado, a Metro do Porto espera agora que o município formalize as alterações específicas que quer fazer ao projecto, refere ao PÚBLICO fonte oficial da empresa tutelada pelo Ministério das Infra-estruturas. Neste momento, ainda não é possível estimar o impacto que este passo terá no financiamento de um projecto que é pago pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Na verdade, não seria preciso haver uma Assembleia Municipal para que a CMP, dona do espaço público que será alvo de intervenção, exigisse as mudanças. Tanto assim é que, na própria assembleia, Rui Moreira explicou que há já dois meses vinha solicitando alterações ao projecto à Metro do Porto.

O autarca referiu que no “conjunto de exigências” que tem feito à empresa presidida por Tiago Braga entra a salvaguarda da ciclovia da Boavista ao longo do Parque da Cidade e a saída do canal de metrobus da zona central.

As medidas coincidem com as defendidas na petição do candidato social-democrata (que tem como responsável da comunicação da campanha o ex-chefe de gabinete de Rui Moreira, Vasco Ribeiro). O documento foi lançado no dia 19 de Maio.

Mesmo antes da assembleia, no dia 30 de Maio, o presidente da Metro do Porto enviou uma carta a Rui Moreira, a mostrar abertura para estudar as mudanças pedidas. Na missiva consultada pelo PÚBLICO, Tiago Braga informou que rever o projecto do perfil da Avenida da Boavista teria um custo de 210 mil euros. O responsável pedia ainda a disponibilização das áreas municipais da Boavista, para começar a obra e cumprir os prazos do PRR.

Entre outras características, um sistema de metrobus distingue-se de uma linha normal de autocarros pela fiabilidade garantida por faixas dedicadas. Na Marechal Gomes da Costa a via é a partilhada. Agora, Rui Moreira vem defender que o que resta da Boavista também o deve ser.

Na assembleia, o autarca argumentou que aquele troço da avenida tem pouco trânsito. Acrescentou que, havendo canal segregado, isso iria impedir o estacionamento de pessoas que pretendam ir ao Parque da Cidade. Embora admita que a planeada abertura da Avenida Nun’Álvares possa induzir mais tráfego e que, depois, haja necessidade de segregar o canal, considera que, até lá, deve mesmo haver via partilhada. No entanto, a solução está ainda em aberto. A própria moção que o movimento de Rui Moreira levou à AM deixava margem para que a via fosse segregada, “se necessário”.

Depois de quase um ano de litígio por causa do concurso público, a Metro do Porto estava pronta para avançar com a consignação da obra da segunda fase do metrobus, que liga a Marechal Gomes da Costa à Rotunda da Anémona, já em Matosinhos.

Esse passo poderá ser adiado. O projecto, que vinha a ser trabalhado entre autarquia e a Metro do Porto desde 2024, definia a retirada de árvores e alterações na circulação, mas previa a existência de uma ciclovia, ao contrário da primeira fase.

De acordo com a planta consultada pelo PÚBLICO, o canal de metrobus ficaria no eixo da Avenida da Boavista, com uma ciclovia bidireccional encostada ao canal, do lado norte, entre Garcia de Orta e a rotunda do Castelo do Queijo.

Este desenho é deixado cair numa altura em que, após nove meses de espera, o sistema de metrobus entrou, finalmente, em testes. O primeiro autocarro a hidrogénio que a Metro do Porto encomendou está já em solo nacional e, na quinta-feira, foram realizados os primeiros ensaios no canal. Uma remessa de outros quatro veículos articulados deve chegar até ao final deste mês, mas ainda não foi definida uma data inaugural do sistema.