“A expansão do metro de superfície de Almada a Alcochete tem de fazer-se mesmo sem o PRR”
09/11/2021 07:00 - Público

Frederico Rosa (PS), o autarca do Barreiro, que conquistou a maior maioria absoluta na AML e no distrito de Setúbal, defende uma ligação regional que melhore a mobilidade na Margem Sul.

“A expansão do metro de superfície de Almada a Alcochete tem de fazer-se mesmo sem o PRR”

O presidente da Câmara Municipal do Barreiro defende a expansão do Metro Sul do Tejo (MST) de Almada até Alcochete como um projecto estratégico da Área Metropolitana de Lisboa (AML) que deve ser concretizado mesmo sem inclusão no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

“É importante que a [ligação] regional Sul, que vai de Almada a Alcochete, seja feita de forma muito mais eficiente e eficaz, de preferência em transporte público. Num momento em que está na agenda mediática a questão do clima, não podemos, por uma distância de um quilómetro, fazer 16 em transporte individual. É dos tais projectos estratégicos que, numa visão do todo, têm de ser implementados, com ou sem PRR”, afirma Frederico Rosa, em entrevista ao PÚBLICO.

O autarca socialista diz não ter dúvidas de que o projecto “há-de ser concretizado”, porque é fundamental para o desenvolvimento regional.

“Sabemos que são investimentos intensivos de capital, mas também sabemos que não podemos querer desenvolver uma região a pensar nas ligações exclusivamente concêntricas na direcção a Lisboa. É fundamental haver ligações, neste caso, Seixal-Barreiro e Barreiro-Montijo”, diz.

Uma ligação, defende, que pode recorrer a soluções diferentes do metropolitano tradicional. “O Metro Sul do Tejo não tem de ser necessariamente em carril, pode ser em BRT [Bus rapid transit], que é um transporte de autocarro dedicado, com menos paragens que um autocarro normal”, refere Frederico Rosa, que diz estar a “trabalhar nesse projecto” no âmbito da AML.

O socialista foi eleito, recentemente, vice-presidente do Conselho Metropolitano de Lisboa, que decidiu manter o comunista Carlos Humberto de Carvalho, como primeiro-secretário. Frederico Rosa diz ver “com muito bons olhos” a manutenção no cargo do seu adversário e antigo presidente da Câmara do Barreiro.

A necessidade de ligação entre os vários concelhos do Arco Ribeirinho Sul, é apontada como justificação para o Município do Barreiro ter cortado, no mandato anterior, com o projecto intermunicipal, de construção de uma ponte pedonal para o vizinho Seixal.

“Éramos criticados porque prescindimos de uma ponte para poder ir a pé ou de bicicleta ao Seixal, pois bem, o traçado do MST, o ponto de ligação, passa exactamente por aí”, argumenta.

Aos 42 anos, o jovem presidente reforça o poder na autarquia que conquistou, em 2017, ao PCP. Na altura ganhou por menos de 4%, mas agora, nas eleições de Setembro de 2021, conquistou a maior maioria absoluta na AML e no distrito de Setúbal, com um total de 56,6% dos votos, contra 23,4% da CDU.

“Pode haver mil e uma explicações” para a expressiva maioria, reconhece Frederico Rosa, mas acrescenta gostar de a interpretar como fruto do trabalho no primeiro mandato.

“Não há ninguém que, nestes quatro anos, não tenha sentido mudança no Barreiro, mesmo com uma pandemia que foi quase um terço do mandato. Houve aquilo com que nos comprometemos ao início, que era dar ao Barreiro - que estava estagnado - um impulso grande liderado pela autarquia, de obras públicas, de renovação e de requalificação. Pretendíamos que as obras públicas puxassem o investimento privado e esse é um propósito que está a ser alcançado”, refere.

O Barreiro, aos olhos do eleito, é hoje uma cidade menos industrial e cada vez mais sustentável, mais atractiva e com melhores condições de vida, nomeadamente na área da habitação. No imobiliário, o crescimento mais do que duplicou nos últimos anos, estando o concelho entre os 20 primeiros do país onde as intenções de investimento mais aumentaram desde o final de 2019. Zona ribeirinha em reabilitação e centro histórico na agenda

Uma dinâmica que ainda não foi suficiente para resolver o crónico problema do centro histórico da cidade, onde à degradação dos edifícios se somam a insegurança e a ocupação ilegal de imóveis.

O presidente da câmara reconhece que o Barreiro velho continua a ser um quebra-cabeças, com “casos muito difíceis, por exemplo, de casas com 60 herdeiros, dispersos pelo país”.

Um problema que a autarquia diz estar em vias de resolução com um investimento de cinco milhões de euros, aprovado já no último mandato, para a requalificação do espaço público e a instalação da nova esquadra da PSP, cuja construção deverá ficar concluída em Dezembro.

As obras no espaço urbano do centro antigo da cidade estão quase em condições de avançar. “Já estamos a acabar o projecto, e este ano vamos lançar o concurso público para fazer essa intervenção”, aponta.

Após o investimento de cinco milhões, que vai renovar o Barreiro velho no que toca a passeios, vias e infra-estruturas subterrâneas, e já com a 5.ª Esquadra a funcionar, chegará a altura da fase seguinte, que o autarca considera mais decisiva. “A aquisição e reabilitação de edificado, com recurso a financiamento do PRR, será a fase mais difícil, mas, também, a que olhamos com maior esperança”, sublinha, acrescentando que o plano passa pela construção de habitação a custos controlados.

“Com este sinal de investimento público da autarquia e de maior segurança com a presença da PSP num edifício icónico naquela zona, contamos levar também os privados a requalificarem o seu património”, explica Frederico Rosa.

Sobre a requalificação da zona ribeirinha, embora na frente para Lisboa ainda não seja visível, o presidente do Barreiro recorda que, nos últimos quatro anos, já foram investidos 7,5 milhões na recuperação de várias áreas junto ao Tejo.

“Não nos podemos esquecer de toda a zona de Coina, do Polis, que esteve parada durante cerca de uma década, e está já toda requalificada. Agora até temos quiosques, onde se pode almoçar, jantar ou beber um copo ao fim do dia. A zona da Avenida Miguel Pais, também, está toda renovada, assim como a zona da Doca Seca. Na Avenida da Liberdade, a obra está a acabar, até ao final deste ano”, elenca o eleito.

Falta ainda a zona do Barreiro velho, de frente para Lisboa, nomeadamente de Copacabana, mas o autarca diz ter já “peça central” para esse quadro: a criação de uma espécie de nova praia fluvial na zona do Moinho Grande, que também já está a ser recuperado. “Assinámos um acordo-quadro com a APA (Agência Portuguesa do Ambiente) para termos dois milhões de euros, a fundo perdido, para financiar a 100% o projecto de requalificação da Caldeira Grande. Não apenas para recuperar a massa de água daquela zona de rio, mas também para ter ali um espaço de lazer que vai ser icónico no Barreiro”, revela.

Outro grande projecto que promete mudar a face da antiga cidade industrial está previsto para a antiga Quinta Braamcamp. O processo aguarda decisão judicial, depois da venda à Saint German ter sido objecto de impugnação judicial e de uma providência cautelar, e, para a autarquia, já está a levar “manifestamente muito tempo”. Frederico Rosa diz não ter informação da desistência do comprador e assegura que há muitos interessados no projecto.