PFP quer atrair os “pesos pesados” da ferrovia
04/11/2021 10:47 - Transportes & Negócios

Portugal deve aproveitar o momento único da ferrovia a nível europeu para desenvolver a indústria nacional e atrair os gigantes do sector, defende o director-executivo da PFP.

PFP quer atrair os “pesos pesados” da ferrovia

Paulo Duarte foi um dos oradores convidados do Seminário de Transporte Ferroviário do TRANSPORTES & NEGÓCIOS. Falou sobre o futuro da ferrovia em Portugal, destacando o papel que a associação tem vindo a ter no sector e quais são os seus objectivos na promoção do caminho-de-ferro.

O responsável frisou que o “abandono” a que o sector ferroviário esteve sujeito nos últimos anos foi o motivo principal que deu origem a este cluster ferroviário: “Este é um cluster de competitividade na ferrovia. Temos vindo a fazer o “caminho das pedras” para alavancar o sector. Mas sempre acreditámos que só acrescentando valor é que poderíamos ultrapassar esta situação da maneira mais rápida possível”. Paulo Duarte recordou que a última análise realizada pelo Boston Consulting Group ao sector ferroviário europeu, em 2017, colocou o sistema ferroviário português  no terceiro lugar a contar do fim, no índice de desempenho ferroviário, entre 25 países europeus, apenas à frente da Bulgária e da Roménia.

Segundo Paulo Duarte, “a melhor maneira de ultrapassar esta deficiência e esta falha é através de competências, de inovação, de soluções de alto valor acrescentado. Este pressuposto sempre nos acompanhou”. E a PFP conseguiu nos últimos anos sensibilizar a tutela para a necessidade de se apostar mais na ferrovia, tendo tido um papel bastante relevante, não só na elaboração de planos estruturais, como o Ferrovia 2020 ou o PNI2030, mas também no desenvolvimento de competências técnicas de âmbito nacional, com particular destaque para a assinatura de um pacto sectorial para a competitividade e aposta na internacionalização da ferrovia portuguesa.

Este pacto sectorial terá como principal objetivo, a inovação, a investigação e desenvolvimento, o reforço das competências nacionais, o apoio à produção do mercado ferroviário nacional, a valorização e promoção da ferrovia nacional e a projeção do sector a nível internacional.

“Como sabem, assinámos em 2019 um pacto sectorial que tem dois grandes objetivos. O primeiro é a elaboração de um “livro branco” para o sector, um plano ferroviário nacional. O segundo é a constituição de um centro de competências ferroviário, projecto que foi formalmente constituído muito recentemente. O Governo assumiu a reactivação de Guifões e deu-se início ao projecto do chamado “comboio português”. Colocou isto num decreto-lei e incumbiu a CP de desenvolver o projecto”, adiantou Paulo Duarte.

Este centro de competências dará particular atenção à formação profissional especializada, consultoria e certificação e também irá trabalhar como um “ninho” de incubação empresarial. Por outro lado, pretende-se fazer de Portugal uma referência na indústria ferroviária europeia e apostar na modernização de equipamentos e produtos de material circulante e infra-estrutura ferroviária, através da participação em projectos internacionais.

E segundo Paulo Duarte, na Europa, vivemos uma “época única” devido aos eixos fundamentais das políticas europeias, nomeadamente no que concerne às políticas ambientais e de descarbonização, com a União Europeia a disponibilizar fundos nunca antes vistos para que as metas ambientais sejam cumpridas. Para o director executivo da PFP, “esta é uma oportunidade que não podemos desperdiçar (…) quer em termos de políticas internas de promoção da ferrovia, como também da disponibilização de fundos europeus”.

O responsável afirmou ainda que a ferrovia terá de se assumir como «a espinha dorsal da mobilidade e da cadeia logística europeia» e que Portugal tem de aproveitar o contexto europeu, potenciando as competências nacionais em todas as áreas da ferrovia: “Temos empresas com muitas competências que muitas vezes têm de procurar mercados estrangeiros porque não têm clientes em Portugal”, adiantando que foi apresentado à tutela um projeto para a internacionalização das empresas portuguesas.

As propostas de valor que fazem parte do plano estão relacionadas com áreas como o “retrofit” e recuperação do material circulante, que tão bons resultados tem vindo a dar no caso da CP, ou na associação a empresas-âncora que já estão no mercado internacional e que podem aproveitar as competências de empresas portuguesas mais pequenas.

Por outro lado, referiu Paulo Duarte, é preciso atrair empresas internacionais para construírem e montarem fábricas em Portugal, criando-se uma espécie de “Auto Europa” ferroviária. “A Siemens já cá está e a Hitachi Rail e a Alstom estão a chegar. Queremos fazer chegar a Portugal os pesos-pesados da ferrovia mundial e europeia”, disse.

Paulo Duarte disse ainda que é necessário que as PME nacionais possam participar nos projectos de grande valor e investimento que estão a acontecer no sector, como o Ferrovia 2020 e o PNI 2030, e que para tal devem ser criados programas mobilizadores, de menor dimensão, que incentivem a criação de produtos e soluções ferroviárias nacionais.

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