Símbolo da estação de comboio de Bragança apodreceu num depósito
14/10/2021 10:57 - Sapo 24

O Movimento Cívico pela Linha do Tua (MCLT) tem andado à procura da antiga toma de água da estação de Bragança, que considera um símbolo da memória do comboio, mas que apodreceu num depósito de Famalicão.

Símbolo da estação de comboio de Bragança apodreceu num depósito

A toma de água era o reservatório cilíndrico de metal que ostentava o nome da estação e que foi retirado de Bragança, junto com outro património, aquando do desmantelamento da linha do Tua, no início da década de 1990.

A peça foi para depósito em Vila Nova de Famalicão, distrito de Braga, onde Fernando Sarmento, do movimento cívico, chegou a vê-la, mas a última vez que por ali passou já lá não estava, o que levou esta organização a questionar os responsáveis pelo paradeiro, como contou à Lusa.

As perguntas dirigidas à fundação responsável pelo Museu Nacional Ferroviário, que ficou com o espólio das linhas desativadas, ainda não tiveram resposta e foi a Câmara de Bragança que esclareceu a Lusa do que se passou com aquela peça.

De acordo com o esclarecimento da Divisão de Logística e Mobilidade, o município quis, há cerca de dois anos, transportar a toma de água para Bragança quando estava a construir o Museu Ferroviário, que, entretanto, abriu na antiga estação do comboio.

Devido às dimensões da peça, a autarquia chegou a contratar “o maior operador nacional” para fazer o transporte, “mas o depósito já estava de tal maneira degradado” que a empresa se recursou a transportá-lo.

“Não pode ser transportado, nem reparado devido ao mau estado”, afiançou o município de Bragança, responsável pelo museu local, que é um dos núcleos espalhados pelo país do Museu Nacional Ferroviário.

A Câmara de Bragança indicou à Lusa que “reportou a situação ao museu nacional que promoveu o abate do ativo no cadastro” que existe de todo o património recolhido das ferrovias desativadas.

A toma de água da estação de Bragança encontrava-se depositada na parte traseira do espaço do núcleo museológico do Lousado, em Vila Nova de Famalicão, um espaço dedicado à ferrovia que abriu antes do de Bragança.

O membro do Movimento Cívico pela Linha do Tua Fernando Sarmento viu a peça naquele sítio, em 2017, e achou que devia fazer parte do museu que começa a nascer em Bragança.

No verão deste ano, voltou a passar no local e o reservatório tinha desaparecido, o que levou o movimento a questionar a fundação, sem resposta até ao momento, segundo disse à Lusa este elemento.

Para Fernando Sarmento, o esclarecimento prestado pela Câmara de Bragança à Lusa revela o que o MCLT temia.

“Infelizmente não é o desfecho que nós queríamos, mas é um pequeno exemplo do abandono a que está votada a linha do Tua e região”, considerou.

Fernando Sarmento diz-se “profundamente triste” com o desaparecimento desta peça pela “importância e simbolismo que tinha”, já que pertencia à última estação da linha do Tua, que se encontra atualmente toda desativada.

A Linha do Tua tinha 134 quilómetros, entre o Douro, em Foz Tua, e Bragança.

As estações ostentavam as tomas de água, que anunciavam o nome, e existia uma de 25 em 25 quilómetros, segundo Fernando Sarmento.

“De todas, só restam metade. A título de exemplo, de Mirandela para baixo só há uma toma de água”, concretizou.

De Mirandela até ao Tua está previsto o regresso do comboio do anunciado e adiado Plano de Mobilidade prometido como contrapartida pela construção da barragem de Foz Tua.

A barragem já está a produzir energia há vários anos, mas a incerteza continua em relação ao regresso do comboio e o movimento cívico “lamenta que o projeto não avance”.

O movimento continua a reivindicar uma ligação ferroviária na região e é com satisfação que constata que a reivindicação começa a ser partilhada por outras organizações e forças políticas, mas Fernando Sarmento desconfia das intenções.

“É como São Tomé, só quando vir o comboio nos carris”, afirmou.