Novo terminal intermodal do Porto sem ligação a comboios urbanos e de longo curso
21/07/2022 06:07 - Sapo Eco

O Terminal Intermodal de Campanhã (TIC) é descrito pela Câmara do Porto como o local “onde as linhas se cruzam” a partir desta semana. O novo complexo de transportes rodoviários fica a cerca de 400 metros da conhecida estação ferroviária e é o ponto de partida dos autocarros expresso nacionais e internacionais, acolhendo ainda as […]

Novo terminal intermodal do Porto sem ligação a comboios urbanos e de longo curso

O Terminal Intermodal de Campanhã (TIC) é descrito pela Câmara do Porto como o local “onde as linhas se cruzam” a partir desta semana. O novo complexo de transportes rodoviários fica a cerca de 400 metros da conhecida estação ferroviária e é o ponto de partida dos autocarros expresso nacionais e internacionais, acolhendo ainda as ligações sobre estrada de e para cinco municípios da região. Mas a infraestrutura ainda é praticamente desconhecida pelos locais e revela alguma dificuldade em ligar-se aos comboios suburbanos e de longo curso.

Para já, o terminal que foi inaugurado esta quarta-feira pelo autarca portuense, Rui Moreira, apenas tem a funcionar uma passagem interna com ligação direta às linhas do Metro do Porto — e que ainda está em obras. Aliás, a visita inaugural nem sequer percorreu esse local, pois as grades e as chapas travavam a ligação aos elevadores que dão acesso aos comboios para Viana do Castelo, Valença e Vigo, que partem das linhas 11 a 15.

Já quem chegar a Campanhã através de um comboio suburbano ou de longo curso (linhas 1 a 9) e quiser apanhar um autocarro neste novo terminal tem de caminhar até à passagem do metropolitano ou, em alternativa, tem de sair da estação pelo lado da Rua Pinheiro de Campanhã. Ou seja, é preciso percorrer cerca de 400 metros a pé, numa travessia praticamente sem cobertura até descer pelas escadas até, por fim, encontrar os autocarros.

“Essa ligação não é da nossa responsabilidade. Dependendo da vontade da IP, a IP avançará. A Câmara do Porto colocou sempre à disposição o espaço. Podem avançar quando quiserem”, respondeu ao ECO Cristina Pimentel, presidente da STCP e também da STCP Serviços, gestora do Terminal Intermodal de Campanhã.

A construção do novo terminal implicou um investimento total de 13,2 milhões de euros, com uma comparticipação de fundos europeus superior a 64%. A freguesia de Campanhã esperou quase duas décadas pelo empreendimento, que pode servir até 120 mil passageiros por dia e tem capacidade diária para 1.000 serviços.

“Há quase 19 anos, no âmbito de uma visita ao Porto do então primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, o meu antecessor [Rui Rio] anunciava a construção de um terminal intermodal aqui em Campanhã. Um projeto que pretendia que fosse estruturante, mas que não passou de uma intenção, não passou de uma mera promessa”, salientou o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, durante a inauguração.

Para já, o TIC vai servir as linhas intermunicipais provenientes de São João da Madeira (CCT), de Gondomar (Alto de Barreiros, Gramido, Medas, Souto), de Paredes (Sarada), de Penafiel (Sebolido) e do Porto (Estação de Campanhã).

Nos autocarros expressos, ficarão aqui concentradas as operações na cidade Invicta da FlixBus, Scotturb (Gipssy) e InterNorte. Para já, fica a faltar a Rede Expressos, que vai permanecer no Campo 24 de agosto (terminal privado).

Rui Moreira preferia que todas as empresas “se mudassem para [Campanhã] por indução porque isso é o melhor para os seus passageiros”. Mas o presidente da Câmara do Porto aproveitou para deixar o recado: “a Rede Expressos tem de mudar-se para cá. […] Se não quiserem vir, haveremos de tomar medidas para que não possa vir pelo Campo 24 de Agosto”, avisou.

Dentro do terminal, há uma sala de espera, no patamar superior, com mais de 60 lugares sentados, mas sem acesso direto aos autocarros. Para o fazer, os passageiros têm de sair da sala, percorrer um corredor descoberto, descer pelas escadas ou elevador e só depois podem entrar nos veículos.

O TIC conta ainda com um parque de estacionamento (pago) para 230 carros e tem uma centena de locais para guardar as bicicletas. Também foi reservado um espaço para trotinetas partilhadas e para tomada e largada de passageiros.

A cerimónia de inauguração do TIC contou com a presença de várias dezenas de pessoas, entre representantes da autarquia, da STCP, da IP, do Instituto da Mobilidade e dos Transportes e do Metro do Porto. Mas fora do circuito da apresentação praticamente ninguém sabia o que se estava a passar. Nem mesmo os residentes no bairro.

“Campanhã sempre foi a freguesia mais pobre e esquecida. Acho que o novo terminal já não vai servir para mim”, comentou Ireneu Neves. Com 70 anos, assistiu a todas as transformações na zona oriental do Porto, desde a construção do estádio do Dragão às obras de reconversão do antigo Matadouro do Porto.

O próprio presidente do município reconheceu a valorização da zona oriental do Porto. “Campanhã não [ganha] apenas um terminal, gerador de emprego e negócio, com 55 empregos de imediato. Mas, doravante, [ganha] um novo parque urbano com cerca de cinco hectares, 1.600 árvores plantadas e que ainda tem uma ligação pedonal ao jardim da Quinta da Bonjóia”.

Fátima Pinho passeava com a cadela Luna junto à estação quando foi confrontada pelo ECO com a novidade. “Não fazia a mínima ideia que tinham construído um terminal”, desabafou. A viver há mais de três décadas em Campanhã, a popular mostrou-se, no entanto, contente com o novo investimento na cidade nortenha.

Resta agora saber se o novo terminal, além de ficar conhecido, vai mesmo contribuir para a prometida redução de 1.776 toneladas equivalentes de petróleo na baixa do Porto e ainda diminuir o caótico trânsito na cidade.

A abertura do TIC também transforma os terminais e interfaces para transportadoras rodoviárias de passageiros de vários municípios da Área Metropolitana do Porto.

O Parque das Camélias, na zona da Batalha, receberá as linhas intermunicipais provenientes de Arouca (CCT), Oliveira de Azeméis (centro), São João da Madeira (CCT), Santa Maria da Feira (Fiães) e Vila Nova Gaia (Alheira, Areinho, Camélias, Chãos Vermelhos, Freixieiro, Grijó Outlet-Park&Ride, Igreja de Olival, Interface dos Carvalhos, Pedroso, Póvoa de Baixo, Salgueiros e Vilar de Andorinho).

O interface da Casa da Música receberá as linhas intermunicipais da Maia (Aeroporto), Matosinhos (Cabanelas e Lionesa), Santa Maria da Feira (Nogueira da Regedoura) e Vila Nova de Gaia (Afurada e Madalena).

O polo intermodal da Asprela vai receber as linhas intermunicipais de Gondomar (Forno, H. Fernando Pessoa e Souto), da Maia (centro e Vila da Luz), da Trofa (Coronado), de Matosinhos (Mar Shopping e Marginal Leça), Paços de Ferreira (Modelos), Paredes (centro, Lordelo), Penafiel (centro, Chãos de Baixo), Lousada (centro), Santo Tirso (ER e ERF), Famalicão (CCT), Valongo (Sobrado) e Póvoa de Varzim (CCT).