IP anuncia linha do Oeste a 160 km/h para ligar à alta velocidade em Leiria
28/06/2022 20:45 - Público

Com uma primeira fase da electrificação atrasada e a correr mal, entre Meleças e Caldas da Rainha, governo anuncia que a linha do Oeste a norte desta cidade vai ser verdadeiramente modernizada.

IP anuncia linha do Oeste a 160 km/h para ligar à alta velocidade em Leiria

Entre as Caldas da Rainha e Leiria, cidade por onde vai passar a linha de alta velocidade, a linha do Oeste vai ser modernizada e subir o seu patamar de velocidades dos actuais 110 km/h para “o patamar de referência de 160 km/h”, o que implica rectificação do seu traçado e uma renovação integral da via. O projecto inclui ainda a duplicação de troços para “articulação com a linha de alta velocidade na zona de Leiria”, o que permitirá que comboios vindos do Oeste possam utilizar a futura infra-estrutura encurtando os tempos de percurso para o Centro e Norte do país.

A promessa foi deixada pelo vice-presidente da IP, Carlos Fernandes, numa cerimónia realizada hoje nas Caldas da Rainha para a assinatura do auto de consignação da modernização da linha do Oeste entre Torres Vedras e Caldas da Rainha. Uma empreitada de 38,4 milhões de euros atribuída ao consórcio formado pela Ramalho Rosa Cobetar SA, Fomento de Construcciones y Contratas SA e Contratas y Ventas SAU, e que tem um prazo de execução de 22 meses.

A obra contempla a electrificação da via-férrea, eliminação de passagens de nível e sua substituição por passagens desniveladas, alteamento das plataformas das estações, construção de uma variante em Outeiro da Cabeça (Torres Vedras) e de uma segunda linha no apeadeiro de S. Mamede (Bombarral), que passará a estação para permitir cruzamentos.

Trata-se um projecto alinhado com o da primeira fase da modernização desta linha e que tem estado em execução entre Meleças e Torres Vedras, se bem que, na prática, parado porque o empreiteiro abandonou a obra em Março passado.

Carlos Fernandes reconheceu que esta situação “tem trazido algum desconforto” e que o atraso se deveu a questões relacionadas com a pandemia e as dificuldades de aprovisionamento comuns a todo o sector, mas também a algumas “debilidades” da própria IP, pelo que “a execução desta obra está muito longe daquilo que nós quereríamos”.

A solução, porém, está à vista com a saída da Aldesa Construcciones do consórcio liderado pela empresa Gabriel A. S. Couto e a entrada da Ramalho Rosa Cobetar em sua substituição para viabilizar a continuação das obras no troço entre Meleças e Torres Vedras. Desta forma, a Ramalho Rosa Cobetar liderará a modernização do Torres-Caldas e dará ainda uma ajuda entre Meleças e Torres Vedras.

A IP conta que as obras naquele troço recomecem dentro de poucas semanas e espera que toda a linha entre Meleças e Caldas esteja concluída ao mesmo tempo. Avisou, no entanto, que para tal será necessária fechá-la durante quatro meses, pelo menos entre Malveira e Caldas da Rainha. Aquela interdição já estava prevista a sul de Torres Vedras para renovação dos túneis naquele troço, mas constitui uma novidade entre Torres Vedras e Caldas da Rainha.

Historicamente, sempre que se fechou uma linha para obras, os prazos nunca foram cumpridos. Em 2004 o túnel do Rossio era para ter encerrado 13 meses, mas acabou por ficar 35. A linha entre Casa Branca e Évora devia ter estado fechada 12 meses, mas ficou 15. Entre Caíde e Marco de Canavezes previam-se três meses de encerramento, mas acabaram por ser quatro. E na Beira Baixa, as obras de Castelo Branco à Covilhã e desta cidade à Guarda tiveram atrasos de vários anos com a linha encerrada.

Essa preocupação foi expressada ao PÚBLICO pelo presidente da Câmara das Caldas da Rainha, Vítor Marques, que manifestou surpresa com a solução de fechar a linha, esperando que o prazo de quatro meses seja cumprido e que se criem durante esse tempo serviços rodoviários alternativos em condições de servir a população.

Na sua intervenção, o autarca chamou ainda a atenção para a necessidade de preservar o património ferroviário da linha do Oeste que, precisamente por a linha não ter sido modernizada, possui algumas das estações originais mais bonitas do país.

O ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, voltou a fazer a sua profissão de fé na ferrovia, questionando-se como foi possível o país ter estado décadas sem investir no caminho-de-ferro. Por isso, minimizou os atrasos em curso no Ferrovia 2020. “Os atrasos que nós vamos falando no debate político hoje em dia, sejam de um ou dois meses, de um ou dois anos, não são esses. Os atrasos que nós temos são de décadas”, disse. “Mas a diferença é que hoje já não estamos a dizer que vamos fazer”, mas sim a fazer e a assinar contratos de consignação para executar obra.

Entre relevar aquilo que não corre bem no projecto do Oeste ou “concentrarmo-nos nas vitórias e nas melhorias”, o governante prefere “celebrar colectivamente o estarmos finalmente a modernizar a linha do Oeste”.

Pedro Nuno Santos reiterou a intenção do governo em prosseguir com a modernização a norte das Caldas da Rainha e voltou a falar naquilo que tem sido a bandeira da sua governação – a linha de alta velocidade Lisboa-Porto. “Esta linha vai permitir – pasme-se face aquilo que nós hoje temos! – uma viagem Lisboa-Leiria em 35 minutos”.

Já a sul das Caldas da Rainha os tempos de percurso ganhos com a modernização em curso serão pouco significativos. Entre esta cidade e Lisboa, os comboios mais rápidos demorarão 1 hora e 29 minutos. Em 1952 o comboio mais rápido fazia esse mesmo percurso em 1 hora e 39 minutos. Em 70 anos, e após um investimento de 150 milhões de euros, ganham-se dez minutos.