Comboios da linha do Norte com atrasos na chegada a Lisboa devido a derrame de óleo nos carris
07/01/2022 17:17 - Público

Comboio de mercadorias derramou óleo sobre a cabeça do carril entre o Setil e Bobadela e deixou a via descendente da linha do Norte em condições precárias de circulação. Situação já está normalizada.

Comboios da linha do Norte com atrasos na chegada a Lisboa devido a derrame de óleo nos carris

Desde as 6 horas da manhã de quinta-feira que os comboios que circulam entre o Setil (concelho de Cartaxo) e Lisboa têm vindo a sofrer atrasos porque os carris da via descendente (sentido norte-sul) estão impregnados de óleo resultante de um derrame provocado por um comboio de mercadorias.

Nestas condições, ao longo daqueles 43 quilómetros os comboios perdem aderência e escorregam facilmente pelos carris não sendo possível controlar adequadamente a sua frenagem. Razões de segurança obrigam a que todas as composições fiquem limitadas à velocidade máxima de 60 km/h, provocando assim grandes atrasos num dos troços mais sobrecarregados da linha do Norte.

Apesar do incidente ter sido reportado pelas seis da manhã de quinta-feira, dia 6 de Janeiro, só pelas 17h00 é que a Infraestruturas de Portugal (IP) iniciou a limpeza do troço. Para isso, fez deslocar desde o Entroncamento uma dresina (veículo ferroviário para trabalhos na via) equipada com depósitos de solvente para verter sobre a via a fim de eliminar a gordura no carril.

Os trabalhos, porém, seriam interrompidos pelas 20 horas porque se esgotou o produto de limpeza e a empresa não possuía mais em stock. Deste modo, ficou apenas limpo um curto troço de dez quilómetros entre o Carregado e Alhandra, mantendo-se até ao momento as restrições entre Setil e Carregado e entre Alhandra e Bobadela.

De acordo com fonte oficial da CP, só no dia de quinta-feira, “todas as circulações que atravessaram o percurso em causa, sofreram atrasos na sua circulação, decorrentes dos condicionamentos provocados pela presença de óleo na linha.” Nos comboios de longo curso (Alfas e Intercidades), o atraso máximo foi da ordem dos 60 minutos, comboios regionais de 67 minutos e nos suburbanos da Azambuja foram de 74 minutos. Destes últimos, houve 18 que foram suprimidos porque o atraso à chegada de algumas composições foi tão grande que já não permitia efectuar a rotação em sentido contrário.

A IP considera um “incidente grave” o derrame de óleo provocado pelo comboio de mercadorias, situação “sem histórico na rede ferroviária e em extensão invulgar”, o que a obrigou a encontrar uma “solução inédita” para minimizar o seu impacto. A empresa explica que “além da necessidade de aquisição de solvente especial, foi necessário mobilizar meios logísticos adequados para a sua aplicação numa extensão de cerca de 43 quilómetros” e que “uma inspecção realizada após a aplicação do desengordurante confirmou que nalguns pontos as condições de aderência não estavam repostas pelo que se mantiveram algumas limitações de velocidade”.

Este trabalho foi desenvolvido sem a suspensão da circulação.

A mesma fonte oficial diz que iniciou um “processo de nova aplicação de solvente, e posterior inspecção” na expectativa de que estivessem reunidas as condições para repor a circulação durante o dia de 8 de Janeiro”. No entanto, pelas 16h15 desta sexta-feira, dia 7 de Janeiro, a circulação já estava completamente normalizada.

O comboio de mercadorias que provocou o derrame era operado pela Medway e procedia do Terminal XXI (Sines) com destino à Bobadela. De acordo com esta empresa, “a mercadoria [óleo alimentar] que se encontrava acondicionada no interior de um contentor marítimo de 20 pés, terá sofrido uma rotura da embalagem durante o trajecto e produzido o derrame ao longo do percurso realizado”. Decorre uma investigação às causas do acidente.

Além do troço da linha do Norte entre o Setil e Bobadela, também a linha de Vendas Novas foi afectada, embora os impactos ali tenham sido menores porque é uma via destinada exclusivamente a comboios de mercadorias.

António Domingues, do Sindicato dos Maquinistas (SMAQ), disse ao PÚBLICO que não compreende como é que a IP “só nove horas depois de reportado o incidente é que activou uma dresina do Entroncamento para limpeza dos carris” e lamentou que a empresa deixasse esgotar o solvente. “As congéneres europeias têm sempre equipamento e logística disponível para estas acções porque fazem manutenção preventiva e correctiva”, disse.

O sindicalista considera que “a IP não retirou as devidas consequências” do acidente de Alfarelos de 2013 quando um comboio Intercidades embateu num regional por não ter conseguido parar a tempo devido à existência de gordura nos carris.

“A IP deveria ter equipamento em estado de prontidão para ocorrer a estes casos e fazer manutenção preventiva”.

O problema do deslizamento em carris é conhecido pelas empresas ferroviárias e vários países tomam medidas adicionais de segurança durante o Outono quando as folhas das árvores caem sobre os carris e libertam uma película de gordura ao serem esmagadas pelos rodados dos comboios. Essa película torna-se perigosa porque provoca o escorregamento dos comboios.

Na Austrália, está há décadas identificada uma situação num troço de via férrea relacionada com a migração sazonal de uma espécie de lesmas que, ao atravessarem a linha são esmagadas pelos comboios e provocam uma pasta gordurosa que pode ser muito perigosa para a circulação.