Viagem de comboio de Lisboa a Estrasburgo demora 57 horas e mostra problemas da ferrovia
14/12/2021 12:21 - Observador

Para o eurodeputado do PCP, é necessária "a reposição das ligações internacionais" e a aposta numa "ligação mais rápida a Madrid", alertando que o contrato entre o Estado e a CP não o prevê.

Viagem de comboio de Lisboa a Estrasburgo demora 57 horas e mostra problemas da ferrovia

Uma viagem de comboio de 57 horas para chegar de Lisboa e Estrasburgo permitiu ao eurodeputado João Pimenta Lopes mostrar o desinvestimento na ferrovia nacional, as fracas ligações internacionais, revelou esta terça-feira o parlamentar comunista.

“Foi uma ligação de cerca de 57 horas, quando antes do encerramento das ligações internacionais, a saber o Sud Express e o Lusitânia Comboio, teria sido possível em 22 horas“, explicou o eurodeputado do PCP, que saiu de Lisboa no sábado por volta das 8h30 e chegou a Estrasburgo na segunda-feira cerca das 19h00, numa iniciativa que marca o final do ano europeu do transporte ferroviário.

Os comboios Lusitânia e o SudExpress, que ligavam respetivamente Lisboa a Madrid e Lisboa a Hendaye, em França, foram desativados em março de 2020, devido à pandemia, não existindo desde então rotas diretas que liguem Portugal às capitais europeias.

Atualmente, Portugal só tem duas rotas internacionais, em automotora a diesel que não ultrapassa os 60 quilómetros por hora, uma que liga o Entroncamento a Badajoz e outra que faz o percurso Porto-Vigo.

Para o eurodeputado do PCP, é necessária “a reposição das ligações internacionais”, acelerando o processo de ligação de Évora a Caia, prevista para 2023, e a aposta numa “ligação mais rápida a Madrid”, alertando que o contrato entre o Estado e a CP “não prevê a ligação internacional”.

Em maio de 2021, à margem da cerimónia da reabertura da Linha da Beira Baixa, o Ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, disse que Portugal está disponível para retomar os serviços do Sud Express, mas que é necessário o apoio da Renfe, a operadora pública dos transportes ferroviários espanhóis.

Para o eurodeputado comunista, existe ainda um “evidente contraste entre o nível de investimento e a priorização da ferrovia de um lado e de outro da fronteira”, alertando para “ligações precárias ou indiretas” em território português, onde “não existe ligação ferroviária a todas as capitais de distrito”.

João Pimenta Lopes atribui a responsabilidade desta realidade “aos sucessivos pacotes da ferrovia da União Europeia, que têm promovido a liberalização do setor” e às “décadas de desinvestimento na ferrovia” por parte dos governos portugueses.

Em Portugal “perdemos 1.200 quilómetros de linhas que foram desativadas, mais de 100 estações de comboios, 20 mil postos de trabalho e capacidade produtiva”.