Menos comboios na linha de Cascais devido ao desgaste das rodas nos novos carris e a falta de lubrificação
18/11/2021 20:30 - Público

Comboios suprimidos ou mais curtos na linha de Cascais são o resultado de um número invulgar de imobilizações nas oficinas devido ao desgaste das rodas.

Menos comboios na linha de Cascais devido ao desgaste das rodas nos novos carris e a falta de lubrificação

É mais uma história da velha dicotomia roda versus carril que, neste caso, é mesmo em sentido literal: na linha de Cascais, a colocação de novos carris e avarias nos lubrificadores de via terão provocado danos nas rodas dos comboios que levaram à supressão de circulações ou à realização destas com composições mais curtas.

Tudo começou quando a CP se deu conta que, de repente, as rodas dos comboios acusavam maior desgaste obrigando as composições a recolher às oficinas para que os rodados fossem corrigidos. Entre 2017 e 2020 a empresa contabilizou uma média de dez reperfilamentos de rodas por ano, mas nos primeiros dez meses de 2021 já foram 49 o número de rodados que teve de ir ao torno.

Na origem disto terá estado a intervenção que a IP realizou na linha de Cascais, nas zonas de Algés, Paço de Arcos e Santo Amaro de Oeiras, “que envolveu, entre outros trabalhos, a substituição integral de travessas de madeira por travessas de betão e de carril em barra curta por carril em barra longa soldada”.

A informação é da própria IP que, assim, reabilitou aqueles troços, proporcionando maior segurança e maior conforto aos passageiros. Diminuiu assim o nível de ruído provocado pelas rodas ao passar pelas juntas do carris, bem como as sacudidelas dos comboios que passaram, naqueles zonas, a ter um comportamento mais suave.

Fonte oficial da IP disse ao PÚBLICO que “os carris instalados respeitam integralmente normativos técnicos em vigor, não originando qualquer irregularidade ou desvio na bitola”. Os técnicos da CP não desmentem, mas constatam que a folga é menor e que isso tem implicações no desgaste dos rodados.

O problema maior, porém, tem a ver com os lubrificadores de via – aparelhos colocados ao longo da linha que, à passagem dos comboios, ejectam óleo para os carris por forma a lubrificá-los e diminuir o atrito entre a roda e o carril.

A IP tem 31 lubrificadores na linha de Cascais, mas cerca de um terço estão avariados e há até um que dificilmente terá reparação por falta de peças. Parte das avarias tem a ver com uma nova geração de lubrificadores, tecnologicamente mais avançada, com componentes electrónicos, ao invés dos velhos lubrificadores mecânicos assentes numa mola que respondia ao peso da passagem dos comboios injectando óleo nos carris.

Na ausência de lubrificação, a parte lateral das rodas, que é responsável pelo guiamento do comboio, sofre mais ao bater no carril provocando um maior desgaste. E foi isso que levou a que, entre Janeiro e Outubro deste ano, 49 rodados tivessem de ser reperfilados nas oficinas da CP, quando em 2020 foram apenas seis e em 2019 só onze.

Para a transportadora pública este problema na infra-estrutura traduz-se num acréscimo de custos: imobilização de material que deveria estar a circular e diminuição da vida útil das rodas. Além dos custos de imagem devido às supressões ou à realização de comboios com menos carruagens.

“Relativamente à questão dos lubrificadores de via, importa explicar que os comboios da Linha de Cascais não dispõem de lubrificadores de rodados ficando por isso exclusivamente dependentes dos lubrificadores fixos de via instalados pela IP”, diz fonte oficial desta empresa. “A IP e a CP estão a trabalhar conjuntamente para o mais rapidamente possível ultrapassar os problemas identificados, os quais não colocam em causa a segurança do transporte ferroviário na Linha de Cascais”.

O problema dos lubrificadores foi aumentado depois do falecimento de um trabalhador da IP que tinha precisamente a função de supervisionar aqueles equipamentos e que foi colhido por um comboio durante a sua actividade. Na sequência deste acidente, a empresa decidiu que o afinamento destes aparelhos passaria a ser realizado só durante a noite, com a via interdita à circulação, em vez de o fazer durante o dia, com os comboios em movimento, como até então.