Rei Carlos dita fim da linha para o comboio real britânico
01/07/2025 11:01 - Público

O comboio real britânico vai ser desactivado em 2027. A decisão do monarca visa redireccionar o financiamento público da coroa.

Rei Carlos dita fim da linha para o comboio real britânico

O rei Carlos III decidiu acabar com o comboio real britânico, um serviço que remonta aos tempos da rainha Vitória. O monarca acredita que o serviço já não é rentável, uma vez que a monarquia vê o seu financiamento público aumentar em mais 46 milhões de libras (54,28 milhões de euros, aproximadamente) nos próximos dois anos, dinheiro que pretende utilizar noutras frentes.

Vitória, trisavó de Carlos, encomendou as primeiras carruagens reais em 1869. A última versão é composta por nove carruagens, a mais recente das quais foi acrescentada em 1986. No entanto, a mesma foi utilizada apenas duas vezes durante o último ano, tendo as duas viagens custado, no seu conjunto, quase 80 mil libras (93.233 euros, aproximadamente).

James Chalmers, o tesoureiro do rei, disse aos jornalistas que o monarca tinha agora concordado que o comboio, que os críticos há muito diziam ser um desperdício de dinheiro, chegaria ao fim da linha em 2027.

"O comboio real tem sido uma parte da vida nacional durante muitas décadas, amado e cuidado por todos os envolvidos, mas ao avançarmos não devemos ficar presos ao passado", disse Chalmers, cujo cargo oficial é ser o Guardião do Tesouro Privado. "Chegou o momento de nos despedirmos com carinho, enquanto procuramos ser disciplinados e orientados para o futuro na nossa atribuição de fundos", acrescentou.

Embora o rei tivesse boas recordações do comboio, os funcionários do palácio disseram que seriam necessários fundos significativos para pagar a sua utilização a longo prazo, apesar de não ser claro quanto é que o seu desmantelamento pouparia.

O anúncio foi feito quando Chalmers revelou, nesta segunda-feira, o relatório anual do Subsídio Soberano, a ajuda governamental que cobre os custos com o pessoal, a manutenção dos palácios reais e as despesas de deslocação e que, actualmente, corresponde a 12% dos lucros da Crown Estate, uma carteira de propriedades pertencentes à coroa.

Graças ao aumento das receitas provenientes dos contratos de arrendamento de energia eólica offshore, os lucros da Crown Estate estão a subir em flecha, o que significa que os fundos reais vão passar de 86,3 milhões de libras (102,15 milhões, aproximadamente) para 132 milhões (cerca de 156,33 milhões de euros) nos próximos dois anos.

Chalmers afirmou que este dinheiro ajudaria a pagar os restantes 100 milhões de libras (118 milhões de euros, aproximadamente​) necessários para completar as reparações de dez anos no Palácio de Buckingham e a manutenção de outros edifícios históricos.

Em Novembro passado, o Sunday Times e um documentário televisivo acusaram Carlos e o seu filho mais velho, o príncipe William, de lucrarem milhões com os serviços de saúde, o Exército e as escolas do país, através de taxas impostas pela propriedade do monarca, o Ducado de Lancaster, e do herdeiro, o Ducado da Cornualha.

William Bax, director executivo do Ducado da Cornualha, reconheceu as críticas ao apresentar o seu relatório anual na segunda-feira, afirmando que as mudanças estavam a ser feitas numa altura de "reflexão e evolução".

Bax afirmou que tencionava acabar ou reduzir as rendas cobradas a alguns grupos comunitários e instituições de caridade, enquanto o relatório mostrava que o rendimento pessoal de William proveniente do Ducado tinha diminuído ligeiramente para pouco menos de 23 milhões de libras (27,14 milhões de euros).

Os antimonárquicos, que dizem que o preço da monarquia ascende a mais de 500 mil milhões de libras (590 mil milhões de euros), afirmam que os relatórios anuais são enganadores. "O custo da monarquia está fora de controlo e estes relatórios não recebem quase nenhum escrutínio político", afirmou Graham Smith, director executivo do grupo de campanha Republic.

James Chalmers sublinhou que a importância global da realeza não pode ser subestimada, citando um inquérito da Global Perceptions Survey que concluiu que a monarquia é a maior influência nas percepções do Reino Unido entre o público internacional.