Publicidade a banco falso esteve em destaque no Metro de Lisboa. Cartazes foram retirados e Banco de Portugal lançou o alerta
03/06/2025 06:28 - Sapo 24
O Metro de Lisboa teve expostos cartazes que, à primeira vista, pareciam anunciar a entrada do banco norueguês DNB Bank em Portugal. Mas tudo não passava de um esquema fraudulento. O caso foi denunciado nas redes sociais, o Banco de Portugal alertou os cidadãos e o metro demarcou-se das responsabilidades e garante que "não intervém diretamente na escolha das campanhas publicitárias".

Foi no LinkedIn que Maia Pedro, empresário e empreendedor, começou por fazer a denúncia de um caso que considerou como "o maior golpe de scam autorizado pelo Metro de Lisboa", a propósito de publicidade sobre a "suposta entrada do famoso banco norueguês DNB Bank em Portugal".
Em declarações ao SAPO24, conta o que viu e como se apercebeu que algo estava errado. "No dia 24 de abril, eu estava a andar no Metro, na Linha Verde e na Linha Vermelha, quando vi uma publicidade que indicava que iam oferecer créditos, entre 5 mil e 900 mil euros, a particulares e empresas, o que é um valor muito avultado e nada normal, o que chamou a minha atenção".
"Como conheço a marca, achei engraçado entrar em Portugal e considerei que podia entrar com algum sistema de publicidade diferente. Tudo indicava que era uma publicidade típica de corporate, de banco, ou seja, o design, uma cara sorridente, as letrinhas pequenas a explicar como é que era o crédito, tudo direitinho. Não havia nada em termos visuais que não desse a credibilidade de um banco. E o metro é muito rigoroso, não iam entrar num esquema qualquer", aponta.
Por esse motivo, decidiu confiar. "A publicidade tinha um QR Code e eu fui lê-lo. Guardei-o e, mais tarde, fui através do computador ver o que era".
"Agora penso que, se olhasse com olho mais atento para a landing page, talvez tivesse pensado logo que algo não estava bem. Mas pensei que tivesse sido algo feito mais à pressa com a justificação da entrada no mercado. Por isso, preenchi os dados — nome, email, o montante que queria pedir e mais algumas coisas — e depois é que tudo começou. Recebi vários emails e vários contactos pelo WhatsApp, de números brasileiros, sempre com nomes de pessoas diferentes", recorda.
Pela troca de emails, o empresário começou também a desconfiar. "Por vezes era um e-mail com o corpo, com a assinatura, com tudo direitinho, noutros o tipo de linguagem não me parecia muito o de uma pessoa trabalhava na banca".
Além disso, "no final davam sempre a entender que era um banco fidedigno e até mostravam a página do Banco de Portugal. Normalmente um banco não tem a necessidade de provar nada, não é?". E a gota de água chegou com um erro num dos emails, que "tinha uma mensagem no final que era equivalente às do Chat GPT, com um 'deseja acrescentar um logótipo no email'".
Nesse momento, Maia Pedro não teve dúvidas do que fazer. "Parei as comunicações por e-mail e eles ainda me enviaram mais e tentaram também por mensagens, sempre a insistir".
Para o empresário, este tipo de burla, cada vez mais frequente nos dias de hoje, é particularmente preocupante por ter sido difundida publicidade num organismo onde passam milhares de pessoas todos os dias.
Sobre o tema, o Metro de Lisboa diz ao SAPO24 que "a gestão dos espaços publicitários nas suas instalações está concessionada à empresa Publimetro, S.A.. Contratualmente é da exclusiva responsabilidade da concessionária avaliar e garantir que as campanhas publicitárias patentes no Metropolitano de Lisboa cumprem as devidas exigências legais e éticas".
Desta forma, "o Metropolitano de Lisboa não intervém diretamente na escolha das campanhas publicitárias, nem valida o respetivo conteúdo ou a identidade das entidades anunciantes".
Mas não foi só naquele espaço que a publicidade esteve exposta. "De acordo com a informação conhecida, a campanha publicitária em causa esteve patente em várias redes de espaços publicitários e não exclusivamente nos suportes existentes no Metropolitano de Lisboa".
"Após o conhecimento e análise das circunstâncias envolvidas, o Metropolitano de Lisboa determinou que os cartazes fossem retirados de imediato dos seus espaços e que a empresa concessionária da publicidade, Publimetro, S.A., encetasse as devidas diligências legais junto das entidades competentes, designadamente junto do Ministério Público", lê-se ainda na resposta enviada.
Ao SAPO24, o Banco de Portugal (BdP) explica que tomou conhecimento da situação no início do mês de maio. Em causa estava a atuação de uma "entidade que atuava através da página na internet https://eurodnb.com/ e do email info@dnbluxembourgs.eu" e que "estava a publicitar em diversos meios, nomeadamente através de 'outdoors', a atividade de concessão de crédito, apesar de não estar habilitada a exercer, em Portugal, qualquer outra atividade financeira reservada às instituições sujeitas à supervisão do Banco de Portugal".
O BdP também "apurou que a entidade em causa, com aparentes propósitos fraudulentos, estaria a utilizar indevidamente a firma do 'DNB Luxembourg, S.A.', instituição de crédito sediada no Luxemburgo e habilitada a desenvolver atividade em Portugal em regime de livre prestação de serviços".
"Tendo em conta os elementos recolhidos, o Banco de Portugal entre outras medidas, emitiu um comunicado no passado dia 5 de maio, alertando o público para a situação em causa. Salienta-se que, a este propósito, também a Commission de Surveillance du Secteur Financier, autoridade que supervisiona a atuação do 'DNB Luxembourg, S.A.', emitiu comunicado de natureza similar.
"O Banco de Portugal tem vindo a alertar os clientes bancários para a conveniência de, em momento prévio ao da celebração de qualquer contrato relativo a produtos ou serviços bancários, verificarem a legitimidade das entidades envolvidas, nomeadamente, mediante a consulta prévia ao site do Banco de Portugal, onde está publicada a lista de instituições registadas e, portanto, habilitadas a exercer atividade financeira em território nacional. Em caso de dúvida, recomenda-se que os clientes bancários contactem o Banco de Portugal", remata a instituição.