Associação Zero apela à reformulação da expansão da Linha Vermelha do Metro de Lisboa
06/12/2024 07:40 - Público

Associação diz que o plano de expansão da Linha Vermelha não reduzirá as emissões tanto quanto seria possível. Seriam necessários 18 mil milhões de euros por ano para manter os objectivos no sector.

Associação Zero apela à reformulação da expansão da Linha Vermelha do Metro de Lisboa

A associação ambientalista Zero apelou esta sexta-feira, 6 de Dezembro, à reformulação da expansão da Linha Vermelha do Metro de Lisboa, de forma a maximizar a intermodalidade, melhorar a conectividade e assegurar um uso mais eficaz dos recursos públicos.

Em comunicado, a Zero apela a que o Governo retome o plano de 2009, incluindo a estação de Campolide, como "interface estratégico e integrando" as linhas de Setúbal, Cascais, Sintra; e uma rede de eléctricos "para melhor servir o centro da cidade".

A organização ambientalista recorda que terminou na quinta-feira o período de discussão pública do Relatório de Conformidade Ambiental do Projecto de Execução (RECAPE) da expansão da Linha Vermelha, entre São Sebastião e Alcântara, para o qual a Zero "contribuiu, e sem o qual o projecto não pode avançar".

A Zero considera que o plano de expansão da Linha Vermelha, na sua forma actual, "não conseguirá atingir a redução de emissões que seria possível e necessária, nem promoverá um aumento significativo na utilização de transporte público" na Área Metropolitana de Lisboa (AML), nomeadamente nos seus concelhos mais ocidentais.

O RECAPE, de acordo com a Zero, procura dar cumprimento, "mas sem integral sucesso", à Declaração de Impacto Ambiental (DIA) emitida sobre um estudo prévio "que ignorou de forma ostensiva o potencial dos interfaces da linha vermelha com as linhas de comboio de Setúbal (Fertagus) e de Cascais na futura estação de comboio do Alvito, e sobretudo a enorme mais-valia que constituiria o interface com a estação de comboio de Campolide enquanto nó fundamental da rede ferroviária metropolitana".

A manter-se o rácio entre investimento e emissões reduzidas, a Zero alerta que seria necessário "investir em média 18 mil milhões de euros por ano, a preços actuais", para cumprir os objectivos de emissões no sector dos transportes até 2050, "o que sendo irrealizável demonstra a inviabilidade financeira deste investimento do ponto de vista da redução de emissões no sector dos transportes".

Segundo a Zero, os "mais de 400 milhões de euros previstos" para a obra poderiam ser "mais eficazmente utilizados", do ponto de vista da mitigação das alterações climáticas, "na electrificação da frota de autocarros e da logística urbana" ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), com um impacto mais significativo na redução das emissões de gases com efeitos de estufa e na melhoria da mobilidade na AML.

"A implementação de um plano integrado e ambicioso é essencial para que Lisboa alcance as suas metas de descarbonização e desenvolva uma rede de transportes moderna e eficiente", sublinha a associação.

De acordo com a Zero, o projecto, concebido para um cenário em que o Aeroporto Humberto Delgado se manteria, "é resultado do inexplicável abandono do Plano de Expansão de 2009, que previa estações em Campolide e no Alvito", consideradas para a associação como "cruciais para a criação de interfaces eficientes para o sistema de transportes".

A Zero recorda que, sem aqueles "elementos de descongestionamento", as estações de Sete Rios e Entrecampos vão "continuar sobrecarregadas, aumentando os tempos de espera e asfixiando a capacidade da Linha de Cintura".

A expansão da linha Vermelha é financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência em 304 milhões de euros. Outros 101,4 milhões de euros surgem através de "verba inscrita ou a inscrever" no ano de 2026.

Já foram registadas duas revisões ao projecto inicial, que tinha um valor total de investimento de 304 milhões de euros do PRR, e cuja previsão de conclusão era de Dezembro de 2025. Desta forma, houve um aumento de despesa para os 405 milhões de euros e alterada a conclusão dos trabalhos para o segundo semestre de 2027 (mais 18 meses).

Actualmente, de acordo com dados apresentados pela secretária de Estado da Mobilidade, Cristina Pinto Dias, no parlamento, o projecto, que esteve suspenso durante cinco meses, tem um desvio orçamental de 101,4 milhões de euros, mais 33% face ao inicialmente previsto, apresentando uma taxa de execução de 1,4%.

Os 405,4 milhões de euros de investimento provêm 88% do PRR, sendo 357,51 milhões de euros a somar aos 47,9 milhões de euros provenientes do Orçamento do Estado.