Coimbra. Movimento Cívico quer manter a Estação Nova a funcionar, Câmara aponta para fins culturais
04/11/2021 07:00 - Diário de Notícias

O novo executivo da Câmara Municipal é crítico do atual traçado do Metrobus, mas a vereadora da mobilidade diz que não é possível voltar atrás e perder o financiamento. A reconversão da estação central da cidade para fins turísticos e culturais é uma possibilidade que será discutida com o Movimento Cívico que quer proteger o edifício.

Coimbra. Movimento Cívico quer manter a Estação Nova a funcionar, Câmara aponta para fins culturais

Movimento Cívico Pela Estação Nova de Coimbra quer manter em funcionamento a mais central das estações da cidade, cujo encerramento está previsto para 2023, no âmbito do projeto de Metrobus. E embora saiba que a posição do novo executivo camarário "não é muito clara sobre a estação", recorda que, enquanto oposição, o "Somos Coimbra" se manifestava crítico do projeto atual da Metro Mondego.

"Algumas das posições assumidas pelos membros do atual executivo coadunam-se com aquilo que nós defendemos", afirma ao DN Luís Neto, que acredita em pontos de diálogo com o novo executivo da Câmara. Para já, aguardam por uma reunião, onde contam mostrar à vereadora dos transportes a informação que foram recolhendo ao longo do tempo e os principais pontos de reivindicação.

O anunciado encerramento da velha estação está previsto no âmbito do projeto de Metrobus. "O que nós defendemos é que o Metro Mondego faz todo o sentido existir no centro da cidade, mas que é possível adotar um traçado alternativo, que não impliquem o encerramento da linha e da estação", enfatiza o urbanista, que desde há um ano tem vindo a dar voz ao Movimento Cívico Pela Estação Nova. O grupo considera que o comboio e o Metrobus podem coexistir, sem que para isso seja necessário encerrar um espaço que faz parte da alma da cidade. Para mais, têm alguns números que o sustentam: a Estação Central de Coimbra tem 1,3 milhões de passageiros anuais (dados da CP e IMT, revelados pelo jornal Público).

O Movimento aponta também outros dados, como o transbordo "a que serão obrigados os passageiros dos comboios suburbanos em Coimbra B". Uma situação "muito onerosa", afinal trata-se de passar passageiros de comboios de 265 lugares sentados para autocarros de 55 lugares. Luís Neto considera ser este um enorme problema logístico, "principalmente na hora de ponta da manhã, quando há três comboios a chegar lotados, num período de 10 minutos", sublinhando que "não há frequência de Metrobus que assegure um bom serviço, comprometendo assim a competitividade de ambos os meios de transporte face ao automóvel privado".

Luís Neto - urbanista de formação, que o faz gravitar à volta destes temas - e Mário Pereira são os principais impulsionadores deste Movimento (criado no início deste ano) que tem vindo a insistir na necessidade de manter a Estação no Centro da cidade. Nesta altura, foi lançado o concurso para a empreitada, já há obras em execução mas noutros troços, por exemplo naquele que corresponde à antiga linha da Lousã e que vai até ao alto de São João. Depois segue-se outra fase, que será do alto de São João até à Portagem. "Portanto, o que está mais atrasado é justamente o troço que corresponde ao encerramento da estação", refere Luís Neto.

Por outro lado, há essa questão importante: a estação só poderá encerrar (mesmo que temporariamente) depois de ser feita a remodelação da estação de Coimbra B, "para que possa servir de garagem, principalmente à noite, dos comboios suburbanos que hoje em dia passam a noite na estação central".

Concurso de ideias para a estação A A vereadora Ana Bastos, que tutela a área de Transportes e Mobilidade, há muito que se pronuncia publicamente sobre o projeto do Metrobus. O novo executivo da Câmara de Coimbra - liderado por José Manuel Silva, ex-bastonário da Ordem dos Médicos - tomou posse há pouco mais de uma semana e por isso ainda não aconteceu a reunião que pretende ter com o Movimento.

Porém, a vereadora adianta ao DN que a Estação A "é da cidade há muitos anos". "Por isso, obviamente, iremos ouvir todos os interessados sobre o futuro destino a dar àquele espaço que, por ser tão nobre, tão interessante e tão central, terá seguramente um fim muito mais ligado ao turismo e à cultura", acrescentou. "Poderá envolver também algum serviço ligado à mobilidade, mas a estrutura mais relevante nunca será essa", sublinha Ana Bastos, que vislumbra até a possibilidade de haver um concurso de ideias em que "todos sejam chamados a projetar o que fazer naquele magnífico espaço".

A autarca aproveita ainda para lembrar outra questão, igualmente na linha das preocupações: o canal que liga a estação velha à estação nova. "Para quando está previsto o seu encerramento, se é que isso vai acontecer, e qual é a solução que ali vai vingar. As nossas ideias foram apresentadas ao longo de toda a campanha eleitoral e é preciso não esquecer que o processo já vai avançado. Nós já não vamos a tempo de o inverter", considera Ana Bastos, que ao longo do tempo em que foi vereadora da oposição, no último mandato, defendeu por várias vezes que "o traçado do Metrobus não deveria ser este, mas que deveria fazer um desvio e ir à grande avenida Fernão de Magalhães, onde se concentram muitos serviços e comércio". A proposta foi, no entanto, sempre ignorada. "A obra já está adjudicada, e já não vamos a tempo de voltar a discutir traçados, sob risco de não termos metro, de perdermos o financiamento comunitário e, por isso, não somos inconscientes ao ponto de repensar tudo", afirma a vereadora.

De resto, embora não se reveja no projeto, Ana Bastos entende que é uma questão de "ter consciência de que são decisões tomadas pelo executivo anterior". "Como tal, neste momento, o que podemos fazer é garantir a sua execução." Mais: a vereadora entende que essa é uma discussão "não apenas extemporânea como perigosa, na medida em que pode por em causa a execução do projeto e a perda do respetivo financiamento", que é de 85% por parte da União Europeia.