CP já vendeu 3.354 passes ferroviários e “reservou” 1.500 viagens de Intercidades
23/10/2024 10:59 - Sapo Eco

A CP – Comboios de Portugal vendeu 3.354 passes ferroviários nos dois primeiros dias em que a nova modalidade começou a ser comercializada, contabilizou o presidente da empresa, adiantando ainda que neste mesmo período foram feitas 1.500 reservas para viagens nos intercidades. “Em dois dias, [o passe verde] está a ter uma boa adesão“, adiantou […]

CP já vendeu 3.354 passes ferroviários e “reservou” 1.500 viagens de Intercidades

A CP – Comboios de Portugal vendeu 3.354 passes ferroviários nos dois primeiros dias em que a nova modalidade começou a ser comercializada, contabilizou o presidente da empresa, adiantando ainda que neste mesmo período foram feitas 1.500 reservas para viagens nos intercidades.

Em dois dias, [o passe verde] está a ter uma boa adesão“, adiantou o presidente da CP, Pedro Moreira, numa audição no Parlamento, na Comissão de Economia, Obras Públicas e Habitação, feita a pedido do Bloco de Esquerda, sobre o plano de negócio da empresa. De acordo com o líder da companhia, foram vendidos 3.354 passes deste novo título que permite viagens ilimitadas em diversos serviços ferroviários por um preço fixo mensal de 20 euros.

Quanto aos custos destes novos passes, Pedro Moreira adiantou que “os cálculos estão no caminho certo e irão aproximar-se dos números que vamos aferir”. Recorde-se que o Governo vai compensar a CP em 18,9 milhões de euros anuais, via contrato de serviço público com o Estado, pelo Passe Ferroviário de 20 euros.

O passe ferroviário verde vai permitir viajar nos serviços regionais e inter-regionais, bem como nos comboios urbanos de Coimbra, Lisboa e Porto e em viagens em segunda classe nos intercidades. Neste último caso, a reserva do lugar deve ser feita nas 24 horas anteriores à partida, sendo que só é permitido reservar um lugar por viagem, até um máximo de duas viagens diferentes por dia.

Nos urbanos de Lisboa e Porto, o passe será válido apenas nas linhas não abrangidas pelos passes intermodais metropolitanos — respetivamente, o Navegante e o Andante, ambos com um preço de até 40 euros. Assim, o novo título de transporte ferroviário abrange somente a linha Carregado — Azambuja em Lisboa e os percursos Vila das Aves — Guimarães, Paredes — Marco de Canaveses, Paramos — Aveiro e Lousado — Braga no Porto.

O presidente da CP rebateu ainda a ideia que tem vindo a perder receitas e passageiros, notando que a empresa “tem tido um aumento de passageiros“, que no ano passado subiram para 163 milhões. “Nos primeiros oito meses do ano há um aumento de perto de 11% face ao homólogo”, acompanhado de um aumento de receitas em 12,9%. Nos comboios regionais houve um aumento 30% de passageiros e um aumento de 21% em receitas.

“Em 2023 houve um crescimento de 11% dos passageiros e em 2024 vamos bater novos recordes de número de passageiros”, rematou o responsável.

A associação europeia de operadores ferroviários independentes Allrail reitera que o novo passe ferroviário de 20 euros vai “canibalizar o mercado único ferroviário” da União Europeia e apela à intervenção dos decisores políticos para garantir “uma concorrência justa”.

“O preço extremamente baixo do novo passe ferroviário é claramente insustentável; irá canibalizar todas as tentativas de abertura do mercado do transporte ferroviário de passageiros de longa distância”, sustenta a Allrail em comunicado.

Segundo a associação, os casos de outros Estados-membros da União Europeia, “desde a Suécia à Chéquia”, evidenciam que “não são necessários subsídios para baixar os preços”, já que “tal resulta da liberalização do mercado”. “Pelo contrário, em Portugal, os novos operadores de longa distância serão obrigados a concorrer contra o dinheiro dos contribuintes, o que é obviamente impossível”, critica.

Apontando o “preço absurdamente barato” do novo passe, a Allrail nota que “oferece viagens ilimitadas em todos os serviços ferroviários subsidiados com o dinheiro dos contribuintes (inclusivamente nos serviços urbanos que não estão abrangidos por passe intermodal metropolitano)” e “pode inclusivamente ser usado nos serviços ferroviários de longa distância (o Intercidades) que foram atribuídos por ajuste direto em regime de exclusividade à CP, o operador ferroviário estatal português”.

Destaca ainda estarem abrangidas “viagens com qualquer duração (mais de oito horas num único sentido)” e “ilimitadas por mês (com possibilidade de reserva de lugar para duas viagens distintas por dia)”, sendo “o contribuinte a suportar a totalidade dos prejuízos da CP”.

A este propósito, a associação cita Diogo da Silva Branco Magalhães, ‘bid director’ na Deutsche Bahn (caminhos-de-ferro alemães), segundo o qual “a receita resultante deste novo passe ferroviário pode nem sequer cobrir um terço do custo do serviço”.

Defendendo a criação de “condições para uma concorrência justa, permitindo aos operadores independentes entrar no mercado”, a Allrail contesta as “políticas nacionais que minam o espaço ferroviário único da União Europeia e inviabilizam os investimentos na alta velocidade em Portugal”. “O desafio é tremendo. É necessária uma ação urgente e decisiva, pedindo-se a intervenção dos nossos decisores políticos”, sustenta.

Citado no comunicado, o secretário-geral da associação afirma: “Este não é um momento para hesitações. É um momento para ter a coragem de fazer o que é necessário para criar um mercado justo e competitivo”. Segundo Nick Brooks, “os investidores privados virão para Portugal, mas só se houver medidas fortes contra a canibalização dos serviços que está a ser suportada pelos contribuintes”.