Por esta Europa fora. O comboio errado e o aconchego da família e amigos
18/07/2024 11:21 - Sapo 24

A importância de ter um plano B e de não entrar em pânico quando as coisas correm mal. Um calor de ananases, a chegada a Cracóvia e uma alcunha em polaco.

Por esta Europa fora. O comboio errado e o aconchego da família e amigos

[O Francisco tem 19 anos, estuda nos Países Baixos e está em viagem com um passe de Interrail que o vai levar por esta Europa fora e este é o seu diário de viagem publicado no SAPO24]

Dia 2 (10 de julho): Dica #4 para futuros viajantes: se os planos falharem (e, acreditem, por vezes vão falhar), não entrar em pânico.

Acordamos, eu antes da Amelia, prontos para continuar viagem. Ela dormiu mal - parece que houve gritos às quatro da manhã -, eu ferrado que nem uma rocha.

Chegamos à estação principal com muita antecedência, aguardamos calmamente na plataforma de embarque. O ecrã indica a partida para Cracóvia às 08h10. Vemos um comboio chegar. O ecrã muda. O próximo comboio vai para o Aeroporto de Viena. Corremos para o comboio que parou à nossa frente, apenas a tempo de ler: "Breclav, hora de partida 08h10". Entramos e o comboio arranca. De repente, percebemos que estamos no comboio errado.

A nossa estação final não é Breclav, na República Checa, ainda que passemos por lá a caminho de Cracóvia (Polónia). O comboio em que seguimos para noutra estação de Viena, saímos e fazemos o percurso inverso. Às 08h21 estamos de volta ao ponto de partida. Mas o comboio que devíamos apanhar já saiu. Com dez minutos de atraso. Ou seja, perdemo-lo por um minuto. Galo, grande galo!

Demora um pouco, mas encontramos uma solução: partir no próximo comboio com destino a Breclav e aí fazer a ligação para Cracóvia. Perdemos duas horas, mas podia ter sido bastante pior. Valeu a ajuda materna (da Amelia, a minha mãe saberá do incidente apenas através deste diário. Também não creio que pudesse ter ajudado muito, com base em experiência prévia nesta coisa de transportes públicos - adoro-a, mãe, beijinhooooooooooos!)

A viagem prossegue de acordo com o plano B, sem incidentes. Além de um calor sufocante no comboio de Breclav para Cracóvia, nada a assinalar, a não ser uma cabine só para os dois durante grande parte da viagem. À medida que o comboio pára nas várias estações polacas vamos ganhando companhia - chegamos à movimentadíssima estação principal de Cracóvia sedentos e esbaforidos.

Uma curta viagem de elétrico, alguns minutos a pé e chegamos ao nosso destino: a casa de uma tia-avó de Amelia. Acompanhada por uma prima que fala um inglês irrepreensível, recebe-nos com calorosas boas-vindas (por favor, já chega de calor!), mostra-nos os quartos e convida-nos para a sala de estar. Fui avisado de que o seu estado de saúde não era muito bom, mas, apesar dos pedidos da família, nada a deteve de nos preparar uma refeição. À nossa espera uma sopa de legumes e pierogis, pastéis tradicionais muito populares na região.

Aconchego de casa. Trocamos sorrisos e conversas, volta e meia uma tradução de polaco para inglês (ainda bem, não sei quase nada de polaco) e logo recebo a alcunha de "Franek", a versão polaca do nome Francisco. E a comida, meu Deus, tão simples, mas tão boa. Dziękuję!

Estafados pela viagem, não vamos muito longe. Fazemos as camas e saímos para um parque próximo dali. E falamos - há sempre alguma coisa para dizer a alguém que conhecemos, mas não vemos durante dois anos. Estes dias são passados numa área muito menos turística, mas ainda acessível. Perfeito para quem quer algo um pouco mais autêntico.

E fica provada a importância de procurar contactos (família ou amigos) nos destinos do Interrail; não só porque se poupa dinheiro, mas sobretudo pelo apoio, pela sensação de segurança e pelo conforto (e aquele colo de avó). Com sorte, também vemos a cidade na perspectiva de quem a habita, que é bem diferente da turística. Se for o caso, é bom levar um presente para oferecer aos donos da casa. Em breve teremos flores para oferecer.

Devia dormir cedo, mas fico a falar com amigos de Portugal e dos Países Baixos. Depois de um dia a ouvir polaco (que adoro), o holandês começa a fazer mais sentido. As saudades apertam em alturas como esta e os momentos bons são ainda melhores quando partilhados. Agora é aproveitar para descansar.