Linha Rosa do Metro do Porto já vai com atraso de 700 dias
17/06/2024 17:54 - Sapo Eco

O “constante deslizamento dos prazos” — que chegaram a atingir “os 700 dias na Linha Rosa à data de 30 de abril” –, a falta de informação sobre o decurso das obras e o impacto económico negativo na cidade e na vida dos munícipes, com consequente fecho de alguns negócios sem receberem qualquer tipo de […]

Linha Rosa do Metro do Porto já vai com atraso de 700 dias

O “constante deslizamento dos prazos” — que chegaram a atingir “os 700 dias na Linha Rosa à data de 30 de abril” –, a falta de informação sobre o decurso das obras e o impacto económico negativo na cidade e na vida dos munícipes, com consequente fecho de alguns negócios sem receberem qualquer tipo de compensação financeira, foram as principais falhas apontadas à Metro do Porto pelo Grupo de Trabalho para Acompanhamento de Investimentos de Transporte Público às empreitadas em curso por toda a cidade.

As obras decorrem em várias frentes e a cidade transformou-se num estaleiro “a céu aberto”, principalmente no caso da futura linha Rosa (São Bento – Casa da Música) e do metrobus (Casa da Música – Praça do Império), apontou o presidente da Assembleia Municipal (AM) do Porto, Sebastião Feyo de Azevedo, durante uma conferência de imprensa esta segunda-feira, na Câmara do Porto.

Este grupo de trabalho, criado a 19 de fevereiro por deliberação da AM, manifestou um conjunto de preocupações em relação às falhas na gestão das empreitadas, ao não cumprimento dos prazos e à desinformação para com os cidadãos. Lamentou ainda o facto de a resposta da Metro do Porto aos dois primeiros relatórios, que enviou, ter chegado apenas esta segunda-feira, precisamente no dia da conferência de imprensa.

Ainda assim, a resposta da transportadora não “acalmou” as preocupações deste grupo de trabalho — constituído pelo presidente da AM e pelos líderes dos partidos políticos com assento neste órgão municipal –, principalmente em relação à compensação financeira aos comerciantes prejudicados com as empreitadas.

O grupo questionou a Metro do Porto acerca das negociações que “foram encetadas com os comerciantes afetados pelas obras e se as mesmas foram revistas, considerando os atrasos da empreitada”. O ECO/Local Online sabe que transportadora respondeu que “até à data não foram realizadas compensações a comerciantes visto que não existiram constrangimentos que o justificasse“. Uma situação que o grupo de trabalho contesta, uma vez que tem conhecimento de pelo menos um caso de um comerciante que fechou as portas por causa das empreitadas.

Durante a conferência de imprensa, o presidente da AM do Porto referiu que “as obras têm avançado com deslizes dos prazos com prejuízo para a cidade, dos munícipes e da atividade económica”. Aliás, detalhou, está “em questão o modelo de gestão e o contacto com a população”, adiantando: “Não acreditamos que o metrobus vai estar pronto em julho” como a empresa já anunciou publicamente. O ECO/Local Online sabe que, no mesmo documento que o grupo recebeu esta segunda-feira, a Metro do Porto avançou com a data limite de 23 de agosto deste ano, incluindo 30 dias para ensaios, relativamente ao prazo contratual da empreitada de conceção-construção.

Rui Sá, da CDU, avançou, por sua vez, que “há duas frentes de obra da Linha Rosa que têm 700 dias de atraso a 30 de abril”, o que leva a crer que, “no final da obra, o atraso será ainda maior”. “Essa é uma das nossas maiores preocupações”, reiterou. E as críticas sobem de tom: “Foram tomadas algumas opções estratégicas à revelia do município, por exemplo a forma como vai ser feita na rotunda o metrobus e a inversão de marcha dos autocarros.”

O grupo de trabalho chega a sugerir à Metro do Porto a colocação de outdoors na cidade para melhor informar os cidadãos e estes poderem acompanhar o decurso da empreitada. Num segundo relatório enviado à Metro do Porto lê-se: “A informação dos cidadãos é absolutamente imprescindível em obras com o impacto social e económico desta magnitude, causadoras de enormes transtornos e passíveis de incompreensão, quando não devidamente explicadas.”

Para o líder do Grupo Municipal Rui Moreira: Aqui Há Porto, Raul Almeida, a Metro do Porto “está a falhar flagrantemente os prazos e a informação à população”, apontando ainda a “incapacidade de planeamento”. Aliás, destacou, “há um deslizar permanente de prazos em prejuízo das pessoas e da cidade, e um incompreensível desprezo na vida das pessoas na forma como é comunicado este processo de obras no Porto”. Advertiu, contudo, que este grupo de trabalho não está contra a política de transportes na cidade, mas sim, “descontente com a gestão das obras, e o impacto na vida dos munícipes e na cidade do Porto”.

“O que vai ser uma mais-valia na vida da cidade que não seja um processo violento de negligência nas pessoas e na vida das mesmas”, assinalou Raul Almeida, apontando ainda as “repetidas atitudes [da Metro do Porto] que depois levam à falta de credibilidade em relação à obra”.

Igualmente o líder do grupo municipal do PS, Agostinho Sousa Pinto, manifestou-se preocupado em relação “aos atrasos e ao impacto [das empreitadas] na economia e na cidade”, acrescentando ainda a “sensação de insegurança em relação às obras”.

Também o líder do grupo municipal do PSD, Miguel Côrte-Real, contestou o andamento das obras, sublinhando que “esta sessão de hoje é um grito de indignação do metro do Porto que não ouve os portuenses“.

As derrapagens dos prazos e os constrangimentos na mobilidade na cidade também têm sido motivo de contestação da parte do autarca Rui Moreira. Numa carta enviada a 4 de janeiro ao presidente da Metro do Porto, Tiago Braga, o autarca independente avisou que “será impossível confiar num plano de obra apresentado pela Metro do Porto, cuja imprevisibilidade é uma constante” e “é inevitável que se perca toda e qualquer confiança nos cronogramas apresentados, nas soluções construtivas propostas, assim como nas promessas de entrega do espaço público nas datas apresentadas”.

Na carta, a que o ECO/Local Online teve acesso, o autarca portuense lamenta que “nada do que foi planeado e apresentado (…) está a ser cumprido” pela transportadora. As críticas sobem de tom quando o edil portuense assinala “alterações ao que estava anteriormente projetado que vão agravando, ainda mais, as condições de mobilidade e os constrangimentos ao normal funcionamento da cidade“. É o caso das obras da futura linha Rosa (São Bento – Casa da Música) e às do metrobus (Casa da Música – Praça do Império).