Em Coimbra: solução provisória nos transportes entre Ramal da Lousã já dura há 15 anos
05/05/2024 07:29 - Sapo 24

Os transportes alternativos ao antigo serviço ferroviário entre Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã, criados como solução provisória, já duram há quase 15 anos e têm criado diversos transtornos para a vida dos utentes.

Em Coimbra: solução provisória nos transportes entre Ramal da Lousã já dura há 15 anos

Pedro Curvelo, que recorre com alguma frequência ao serviço alternativo, disse à agência Lusa que “têm sido 15 anos de sofrimento”, em especial para os cidadãos que utilizam diariamente os autocarros, entre Coimbra e Serpins, concelho da Lousã.

“Para essas pessoas, a perspetiva de abrir um novo sistema de transportes – moderno, pelo que dizem – é uma boa notícia”, reconheceu.

Porém, “o que vem aí é que pode não satisfazer as suas reais necessidades”, sobretudo no troço suburbano do antigo Ramal da Lousã, referiu.

“Será uma ótima solução para a cidade de Coimbra”, acrescentou o engenheiro civil.

Em 2014, Pedro Curvelo foi um dos fundadores do movimento Lousã pelo Ramal, que, em oposição ao metropolitano ligeiro de superfície, preconizava a eletrificação e modernização da ferrovia centenária, mantendo a ligação à Linha do Norte, na estação de Coimbra B.

“Para quem vive em Serpins, Lousã ou Miranda do Corvo, tenho dúvida de que esta solução do Metrobus seja boa, com guiamento ótico nos túneis e pontes”, declarou.

O antigo vereador do PSD na Câmara da Lousã salientou que o autocarro elétrico do tipo Metrobus “só pode andar a 30 Km por hora nos túneis e pontes, que são muitos” entre Miranda e Alto do São João, na capital do distrito.

No antigo canal ferroviário, as viagens “poderão ser mais longas”, já que se trata de um sistema “mais lento” do que no tempo das automotoras ‘Allan’, de origem holandesa, que circularam na linha até janeiro de 2010.

“Se queremos uma solução moderna, também temos de ser mais rápidos e isso não vai acontecer, de certeza absoluta”, no futuro, com a entrada em funcionamento do Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM), criticou.

No passado, “havia uma deficiente exploração do sistema” por parte da CP, reconheceu Pedro Curvelo, de 64 anos, ao recordar a época em que estudava na Universidade, quando “o comboio só demorava 30 minutos” a fazer o percurso entre a estação da Lousã e o apeadeiro de São José, em Coimbra.

“Tenho usado os transportes alternativos e os autocarros andam às curvinhas, a viagem é um suplício”, lamentou.

José Soares Gonçalves, de 83 anos, residente na Lousã, gosta de ir a Coimbra nos transportes alternativos, para passear com a esposa, fazer compras ou por razões de saúde.

“Gostava das automotoras”, mas os atuais autocarros “são confortáveis”, disse o reformado, que planeia “viajar mais vezes ainda” no futuro Metrobus.

O utente Mário Sol, de 68 anos, enfatizou à Lusa que “a segurança dos comboios não se compara” à dos autocarros elétricos que andarão no asfalto do antigo Ramal da Lousã.

Mário Sol integra a Junta de Freguesia de Miranda do Corvo, pela CDU, e há cerca de 20 anos esteve na fundação do Movimento de Defesa do Ramal da Lousã, que contestava o processo do metro e defendia a eletrificação da linha.

Na sua opinião, os transportes alternativos têm sido “uma experiência péssima para a maior parte das pessoas que os utilizaram até hoje”.

Por outro lado, “elas mostram-se desiludidas” com o encerramento da ligação ferroviária, há quase 15 anos, e pela sua substituição pelo sistema de autocarros com baterias recarregáveis.

Gracinda Dias Mendes, de 70 anos, moradora dos Moinhos, Miranda do Corvo, congratulou-se por ser “ainda do tempo do comboio a vapor”, que circulava “completamente cheio de gente”.

Contou que, nos primórdios dos transportes alternativos, em 2009, “as pessoas começaram a ganhar medo” e algumas “passaram a ir de carro” para Coimbra.

“Havia atrasos e era sempre essa confusão. Em muitos casos, até chovia nos autocarros”, recordou, para afirmar que, nos últimos anos, “não tem havido grandes problemas”.

Gracinda Mendes confirmou à agência Lusa que o arrastamento do processo do metro, incluindo o abandono das obras, em 2011, levou “muita gente” a vender as casas e a sair dos concelhos de Miranda e Lousã.