APDL quer operador ferroviário de mercadorias
22/12/2022 22:50 - Transportes & Negócios
A APDL está “a trabalhar” na criação de um operador ferroviário de transporte de mercadorias, adianta Nuno Araújo, em entrevista à “Lusa”.

Definitivamente, a ferrovia é uma aposta de Nuno Araújo para o porto de Leixões, e reafirmou-o em entrevista, a poucos dias de deixar o cargo de presidente do conselho de administração da APDL, por opção.
“Quando falo em ferrovia, já não falo só em ter infra-estruturas. Acho que da mesma forma que estamos a investir nas infra-estruturas, achamos, e estamos a trabalhar nisso, que há espaço para mais operadores ferroviários em Portugal”, disse.
Segundo Nuno Araújo, “essa será, porventura, a peça de falta” para a APDL poder “oferecer soluções logísticas diferentes das que existem hoje”.
“Hoje há dois operadores ferroviários que estão a fazer investimentos, mas que estão a pensar nas suas próprias organizações, é natural, são duas empresas privadas”, disse, referindo-se à Medway e à Takargo.
Segundo Nuno Araújo, há “uma verticalização do negócio” logístico a nível mundial, e “alguns dos armadores hoje em dia têm os navios, têm os terminais, têm as empresas de camionagem, têm a ferrovia, o transporte ferroviário, e os terminais rodo-ferroviários”.
“A dada altura, o mercado está retido por estas empresas globais, as quais não conseguimos contrariar nem sequer beliscar. Então, nós percebemos que para ter soluções diferentes, temos que ter mão nas infra-estruturas”, disse à “Lusa”.
Nuno Araújo rejeita “ver um porto como o de Leixões a definhar” e “sem capacidade de responder” à região que por ele é servida.
“Não aceito que empresas desta região estejam a movimentar os seus produtos por outros portos que ficam a 300 ou 400 quilómetros de distância. Não há nada que justifique isso”, reforçou.
O administrador portuário reiterou o objectivo de ter 20% de carga movimentada por ferrovia em 2023 (atualmente são 8%), contando com o contributo da passagem do terminal da Infraestruturas de Portugal (IP) em Leixões para a APDL.
Actualmente, “um contentor que venha para um terminal marítimo, e que vá [primeiro] para o terminal [ferroviário] de Leixões, tem que sair, ir para a via pública, percorrer 18 quilómetros e entrar em Leixões para vir para o terminal marítimo, que está ali a 100 metros ao lado”.
“Num país, em pleno século XXI, em 2022, estar a contar uma história deste género ainda parece surreal”, caracterizou, adiantando que as estruturas e trabalhadores da IP no terminal passam para a APDL em 1 de Fevereiro.
Questionado sobre se o atraso nas obras na linha da Beira Alta e a respectiva ligação directa da região à Guarda (onde o terminal de mercadorias é gerido pela APDL) condiciona os objectivos, Nuno Araújo acredita que conseguirá atingir a meta dos 20%.
“É verdade que vai ser mais difícil porque a linha da Beira Alta está atrasada. Mas mesmo assim acho que vai ser possível”, disse, falando num “ganho indirecto, automático”, da utilização da ferrovia.
Para Nuno Araújo, “duplicar a capacidade de carga do porto de Leixões não pode representar, necessariamente, duplicar o número de camiões” e a aposta na ferrovia dá-se “por uma questão logística e de capacidade”, mas também “por uma questão ambiental”.
Na Guarda, está já “definido qual é o layout” de um futuro novo terminal, e o que existe actualmente “irá operar rapidamente”, após “alguns investimentos na infra-estrutura que existe, mas nada de grande significado nem de grande monta”.
“Estamos a olhar para a rede que existia para chegar até Madrid”, desenhando o eixo Leixões – Guarda – Salamanca – Medina del Campo e a capital espanhola, adiantou.
Ainda quanto à ferrovia, lembrou a falta de uma conexão ao porto de Viana do Castelo, também administrado pela APDL, e que “que não está neste momento no Plano Ferroviário Nacional”, apresentado em Novembro e agora em consulta pública.
“No âmbito desta consulta pública, iremos fazer questão de a colocar como prioritária para nós”, adiantou.