Mais do que uma renovação: o novo plano para Coimbra B prevê uma estação intermodal
12/08/2022 06:00 - Público

IP encomendou revisão de um plano urbanização da estação ao arquitecto Joan Busquets, que o tinha desenhado, em 2010. Estação fica no mesmo sítio, mas recebe alta velocidade e terá uma nova configuração

Mais do que uma renovação: o novo plano para Coimbra B prevê uma estação intermodal

Nos últimos anos, a solução em cima da mesa para a velhinha estação de Coimbra B passava por um projecto de renovação. No entanto, um recente contrato da Infra-estruturas de Portugal (IP) sinaliza uma mudança de direcção e o futuro da estação ferroviária mais utilizada de Coimbra passa agora por uma estação intermodal, com a articulação com os comboios de alta velocidade.

No final de Julho, a IP encomendou ao arquitecto Joan Busquets a revisão do plano de urbanização de Coimbra B, noticiou a Agência Lusa, na quarta-feira. O arquitecto catalão tinha já sido responsável por desenhar o Plano de Urbanização da Entrada Poente e Nova Estação Central de Coimbra, apresentado em 2010, um documento que previa a construção de uma interface intermodal, 100 metros a Norte da actual estação.

A revisão do plano custa 262 mil euros (mais IVA) à IP e deverá estar concluída em 224 dias, lê-se no contrato que foi assinado a 29 de Julho. Embora esta encomenda preveja apenas a revisão de um documento com mais de 10 anos, na prática, este passo significa o abandono da mera renovação da estação, uma solução que tinha sido apresentada em 2017 pelo Governo e aprovada pelo anterior executivo da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), em 2020.

Questionada pelo PÚBLICO, a IP explica que, após ter desenvolvido novos estudos sobre a chegada da linha de alta velocidade (AV) ferroviária a Coimbra, é possível implantar a “futura estação intermodal, onde se inclui o futuro serviço de alta velocidade, no local da actual estação de Coimbra B”. Esta possibilidade é explicada com a adopção da bitola ibérica para a nova linha, nota a IP, uma vez que “confere uma interoperabilidade total entre a rede ferroviária nacional e a futura rede de alta velocidade, ao permitir ligações das duas redes em diversos pontos do país”.

Sendo a localização diferente do plano anterior, explica a empresa pública, é preciso “desenvolver um novo instrumento de gestão territorial que garanta a adequada integração da estação de alta velocidade” na cidade.

Também a CMC, em resposta ao PÚBLICO, refere que será possível construir uma estação de raiz e não apenas renovar a existente, como estava previsto. A revisão do plano “refere-se à estação e a toda a envolvente urbanística da estação, com o objetivo de criar uma verdadeira estação intermodal”, informa a autarquia. O presidente da CMC, José Manuel Silva, já tinha dito que o projecto de renovação de 2020 era “um mero lifting da actual estação”. “Coimbra precisa finalmente uma estação intermodal, que integre de forma articulada todos os modos de transporte e que potencie uma nova centralidade urbana”, defende o município.

Em Maio, José Manuel Silva e a vereadora com os pelouros do urbanismo e mobilidade, Ana Bastos, participaram numa reunião de trabalho com Joan Busquets e a equipa da IP para “adaptar este plano às novas dinâmicas da cidade”, escreve a Lusa.

Avanços e recuos

O Plano de Urbanização da Entrada Poente e Nova Estação Central de Coimbra que Joan Busquets apresentou em 2010 tinha sido desenvolvido no contexto do projecto da Rede de Alta Velocidade (RAVE), então equacionado pelo Governo, e previa a articulação com o metropolitano ligeiro de superfície. Com a crise económica e consequente abandono dos projectos do TGV e do Metro Mondego, o plano urbanístico que previa a construção de um edifício ponte sobre o canal ferroviário e abrangia 107 hectares da zona Norte da cidade ficou na gaveta.

Há muito que autarquia defendia a melhoria das condições de Coimbra B e, desde que foram apresentados os autocarros eléctricos como solução para o Sistema de Mobilidade do Mondego, o Governo ligava o projecto para a estação às empreitadas de instalação do metrobus.

A 2 de Junho de 2017, no mesmo dia em que andou por Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã a apresentar o metrobus, o então ministro das Infra-estruturas, Pedro Marques, anunciava o lançamento do “concurso do projecto de modernização da estação de Coimbra B” e apontava um horizonte de três anos e meio para a conclusão da obra.

No entanto, três anos foi o tempo que levou à elaboração do projecto e à sua apreciação por parte do executivo camarário de Coimbra. Em Julho de 2020, o então presidente da CMC, o socialista Manuel Machado, saudava o projecto de renovação como “um passo decisivo na modernização da cidade”. Na oposição estava a vereadora Ana Bastos, que hoje tem a pasta dos transportes e mobilidade, e que considerava que a mera reformulação de Coimbra B era “uma solução minimalista e sem qualquer perspectiva de futuro”. Sublinhava também que, ao manter-se aquela solução, havia o risco de a cidade ficar de fora da rota da alta velocidade e defendia a recuperação do plano de urbanização de Busquets.

Em 2021, com as eleições, mudou a cor do executivo. Logo no início deste ano, um comunicado do conselho de ministros mostrava que a Coimbra B teria que esperar. O Governo decidia reprogramar os encargos financeiros com a mais movimentada estação ferroviária de Coimbra o que, na prática, fazia com que a solução passasse para o quadro comunitário seguinte, o Portugal 2030. O jornal Eco explicava então o motivo: o aumento dos preços dos materiais de construção levou a que o custo da renovação subisse 1,9 milhões de euros.

Era o último desenvolvimento conhecido. Daqui a sete meses, haverá um novo plano para a velha estação de Coimbra.