CP sem intenções de retomar comboios para Alcântara-Terra ao fim-de-semana
30/07/2022 06:59 - Público

Alcântara-Terra e Marvila são servidas por uma família de comboios urbanos que, desde Junho de 2015, não circula ao fim-de-semana. Resultado: não há ligação entre a linha de Cintura e a de Cascais, impedindo transbordos directos para quem quer ir para as praias da Linha. Também estão obrigados à mudança de comboio quem, vindo por exemplo de Alverca, Vila Franca ou Azambuja, tem como destino o centro de Lisboa, reduzindo a atractividade do comboio.

CP sem intenções de retomar comboios para Alcântara-Terra ao fim-de-semana

A situação já se arrasta há mais de sete anos. Depois da chegada do último comboio urbano, procedente da Castanheira do Ribatejo, à 1h05, já em plena madrugada de sábado, a entrada da recém renovada estação de Alcântara-Terra é fechada a cadeado e assim fica durante todo o fim-de-semana. Os comboios só voltam a servir aquele terminal na madrugada de segunda-feira, com o retomar do horário de dia útil. Durante os dois dias do fim-de-semana, os passageiros vindos das linhas de Azambuja ou Sintra ficam impossibilitados de recorrer ao próprio serviço da CP para chegar à linha de Cascais. E quem mora em Alcântara deixa de conseguir chegar à zona central da cidade num par de minutos em transporte público.

A mesma falta de comboios repete-se com o apeadeiro de Marvila, servido pela mesma família dos serviços urbanos de Lisboa, que, apesar de não ter grades à porta, fica a ver os comboios que servem a linha de Sintra passar por ali sem efectuar paragem.

Com a reorganização das famílias de comboios dos serviços urbanos de Lisboa, a 14 de Junho de 2015, Alcântara-Terra passou a ter comboios directos apenas para a Castanheira do Ribatejo e não para Azambuja, como até então. A CP prefere operar ao fim-de-semana a ligação Azambuja-Santa Apolónia (já ela servida pelos regionais Tomar-Santa Apolónia) em vez de permitir aos passageiros vindos do norte de Lisboa um acesso rápido às estações mais centrais da cidade: Roma-Areeiro, Entrecampos e Sete Rios. Fica igualmente comprometida a possibilidade de transferência directa para a linha de Cascais ou para os comboios da Fertagus com destino à margem sul.

A situação agrava-se nas semanas quentes de verão em que são muitos, em particular jovens, que optam pelo comboio para aceder às zonas balneares. Não é difícil perceber o porquê: em cerca de 1h30 os passageiros vindos da Linha da Azambuja conseguem chegar às praias da linha. Durante o fim-de-semana, o trajecto prático da semana torna-se numa aventura digna de uma qualquer gincana, ao obrigar ao passageiro ir até Santa Apolónia e apanhar um autocarro da Carris ou a seguir de metro até à estação da Baixa-Chiado, mudando depois de linha para conseguir seguir para o Cais do Sodré, onde os comboios da linha de Cascais o esperam. Como os horários são de fim-de-semana, qualquer transbordo mais demorado agrava, e muito, o tempo de viagem.

A situação, que já gerou uma petição do movimento informal “Mais Comboios”, é relatada por duas amigas que, num dia de praia, aproveitam a ligação que a CP oferece durante a semana para chegar às praias da linha. Ao PÚBLICO, Marlene Silva e Leila Epaminondas relatam uma viagem “bem mais demorada” aos sábados e domingos, ao terem de esperar pelo metro quando chegam a Santa Apolónia. “Fazia falta este comboio directo ao fim-de-semana, deviam mudar isto”, diz Leila.

Contactada pelo PÚBLICO, a CP diz que “a actual oferta dos Comboios Urbanos de Lisboa decorre da monitorização permanente da procura, que tem por objectivo identificar as efectivas necessidades de mobilidade das populações”. E que, “caso se verifique qualquer alteração de contexto que induza uma maior necessidade de utilização de ligações ferroviárias aos fins-de-semana e feriados, a CP procederá a reposição dos referidos serviços comerciais entre Azambuja e Alcântara-Terra”.

Durante a semana, a CP faz 70 comboios diários na família de comboios Castanheira-Alcântara Terra. São 62 mil lugares oferecidos, com uma ocupação média de “50% em hora de ponta e 30% no restante período”, segundo dados da própria empresa. Apesar dos bons números de utilização desta ligação, a CP acredita que a procura se esfuma ao fim-de-semana, não havendo passageiros que justifiquem ligações directas da Linha da Azambuja para o centro da cidade, bem como para os comboios da Fertagus ou para a linha de Cascais.

Reforços especiais de Verão aconteceram apenas uma vez nos últimos anos, entre 15 Julho e 27 Agosto de 2017, mas “a procura registada nos serviços realizados durante este período foi muito baixa, motivo pelo qual os mesmos deixaram de ser realizados”, diz a CP. Mas se os números da procura se basearem apenas nas validações, é de referir que em toda a estação de Alcântara-Terra há apenas um validador “escondido” atrás da máquina automática de venda de bilhetes que se apresenta várias vezes inoperacional e que normalmente é apenas utilizado pelos portadores de títulos ocasionais.

Ainda assim, está nos planos do Governo para esta década ‘desencalhar’ Alcântara ligando em túnel a linha de cintura à de Cascais. Nessa altura, diz a CP, “serão efectuados novos estudos no sentido de ser implementada a oferta mais adequada às necessidades dos Clientes”. Até lá, espera aos passageiros uma caminhada de cerca de dez minutos entre as estações de Alcântara-Terra (na linha de Cintura) e Alcântara-Mar (na linha de Cascais). Nos dias úteis, claro!

E quando há comboios especiais a propósito de grandes concertos em Algés, como o festival Alive, não seria mais fácil a CP fazer o Intercidades especial sair de Alcântara-Terra em vez de Santa Apolónia? A empresa diz que tal “não é possível, pois esta estação não dispõe de equipamentos que permitam a realização de manobras para inversão de locomotivas”.

Uma explicação que não corresponde à verdade pois aquela estação dispõe de AMV (Aparelhos de Mudança de Via) que permitem realizar essa manobra. Teria, no entanto, de pagar à IP (Infraestruturas de Portugal) para prestar esse serviço, mas nada impede que as locomotivas possam manobrar nessa estação e, logo, que os Intercidades saiam de Alcântara-Terra em vez de transportar os festivaleiros para Santa Apolónia em autocarro para aí apanharem o comboio.