PS sozinho na defesa da Linha Circular do Metro de Lisboa
15/06/2022 23:26 - Público
Com excepção do PS, todos os partidos com assento na Assembleia Municipal de Lisboa pedem a suspensão das obras da Linha Circular de Lisboa.
A Assembleia da República debateu esta quarta-feira a petição apresentada pelo movimento “Contra o Fim da Linha Amarela” que deu entrada no Parlamento em Março de 2019 e que solicita a suspensão do projecto da linha circular do Metro de Lisboa, que já se encontra em curso.
A pedido do Bloco de Esquerda, do PAN e do PSD, foi discutida a petição assinada por 4366 cidadãos que descrevem os problemas de mobilidade que a linha circular irá provocar a milhares de utilizadores que vivem no Norte de Lisboa. O novo desenho da linha do metro significa que os passageiros que apanham o metro no concelho de Odivelas e na parte alta da cidade são obrigados a mudar de linha na estação de Campo Grande para se conseguirem deslocar para zonas como a Cidade Universitária, o Rato ou o Marquês de Pombal, porque vão transitar para a linha verde.
O Bloco de Esquerda apoia a suspensão do projecto da linha circular porque está a ser feito um investimento que não “serve a população da Área Metropolitana de Lisboa”. O Bloco afirma que o Partido Socialista está a apoiar “o metro do turismo, fechado sobre si mesmo”, e que não serve “quem necessita”, porque a expansão da linha do metro não é para as pessoas que se deslocam todos os dias para o centro da cidade para trabalhar.
Também a deputada única do PAN, Inês Sousa Real, afirma que Lisboa não pode ficar refém do turismo e “de um projecto que não serve o interesse dos utilizadores que o frequentam diariamente”. A linha circular irá incentivar o uso de transporte pessoal e prejudicar o ambiente, sublinha.
O PCP recorda o Orçamento do Estado de 2020, que não foi respeitado pelo PS, impondo ao país uma proposta que “serve os interesses mobiliários e do turismo e não contribui para resolver os problemas da mobilidade”. Como os restantes partidos, realçam que a solução irá aumentar o transbordo na estação de Campo Grande. O Chega realça novamente os problemas de mobilidade que irão ser causados e apela a que sejam realizados novos estudos independentes.
O projecto da “Linha em Laço” apresentado esta quarta-feira pelo PSD “garante manter a ligação de toda a rede sem a necessidade de transbordos, o que vai de encontro às necessidades das pessoas que vivem em zonas”. De acordo com António Prôa, deputado do PSD, a linha em laço foi estudada e responde ao argumento da diferença de frequências necessárias ao longo da linha. Garante manter a ligação de toda a rede ao centro da cidade não sendo necessários transbordos, ao contrário da proposta defendida pelo PS. Explica que, com esta solução, vai ser feita uma expansão da linha do metro para o ocidente, o que vai de encontro com o “fluxo de pessoas nas zonas limítrofes ainda não servidas por este modo de transporte”.
Todos os partidos rejeitam o plano de expansão do Metro de Lisboa. Recordam que o governo ignorou a vontade da Assembleia da República, da Câmara Municipal de Lisboa e não respeitou o Orçamento do Estado de 2020, que previa a suspensão dos trabalhos de construção da Linha Circular do Metro de Lisboa. O PS está sozinho nesta decisão.
Em sua defesa, o PS afirma que o projecto da expansão da linha do metro foi objecto de vários estudos e uma análise cuidada, mas que a oposição só acredita “em estudos que sejam para validar a [sua] posição”. Explica que vão ser desperdiças verbas caso as obras sejam suspensas e volta a afirmar os benefícios da linha, que irá reduzir a emissão de CO2, reduzir o uso de transporte individual e aumentar a utilização do Metro de Lisboa. Diz que é “falso que o transbordo em Campo Grande seja obrigatório” porque é possível fazer o mesmo trajecto utilizando “comboios de Odivelas até ao Cais do Sodré”, e adiciona que foi assinado um protocolo entre o munícipe de Loures, Odivelas e o Metropolitano de Lisboa para dar concretização a “um projecto de expansão da cobertura intermodal da actual linha amarela do Metropolitano a partir da expansão de Odivelas” e com continuidade entre os dois concelhos.
O Partido Socialista termina a intervenção a afirmar que em 2019 foi aprovada a expansão do Metro de Lisboa em 2019, na Câmara Municipal de Lisboa, com votos do PS, PCP e a abstenção do PSD.
A Iniciativa Liberal alerta para os impactos financeiros, ambientais e sociais da Linha Circular, que nunca deveria ter sido uma opção. Já o Livre afirma que “este tipo de debates” não ajudam para que haja um esclarecimento à população e a resolver os problemas de infra-estruturas e dos investimentos neste país.
O porta-voz do movimento “Contra o Fim da Linha Amarela” Paulo Sousa, lamenta que um grupo parlamentar com muita força pareça estar em “contramão na auto-estrada”, onde fazem transparecer que os outros partidos políticos, os cidadãos e os grupos parlamentares “são todos uns incompetentes”. Esperavam que, desta sessão, algo ficasse resolvido, mas que, infelizmente, não foi possível devido a “um determinado grupo político à margem da lei, em que não cumpriu um Orçamento do Estado”, ignorou as resoluções deste parlamento, e avançou “contra tudo e contra todos, inclusive contra a lei”.
Paulo Sousa não aceita este desfecho porque a expansão vai prejudicar as populações, não só as da zona norte de Lisboa, mas também as outras cidades da área metropolitana de Lisboa. Lamenta que o PS não fez um esforço para ouvir as opiniões das outras vozes no debate, o que “é grave”.
Jorge Mendes, que também faz parte do movimento, afirma que a situação é frustrante porque grande parte dos utilizadores do Metro não estão informados sobre o que realmente é a Linha Circular. “Só o tempo irá demonstrar que este investimento é errado” e, no futuro, não haverá Linha Circular porque não serve as necessidades das pessoas.
Destacam vários pontos que foram assinalados na petição como, por exemplo, os problemas estruturais em zonas como a Estrela ou a Avenida 24 de Julho, uma área que foi construída sobre estacas, após o terramoto de 1755.
Utilizador frequente do Metro de Lisboa, Simão Pedro Guedes, 23 anos, também esteve presente durante a assembleia como forma de apoio aos milhares de pessoas que irão ser prejudicadas pela linha circular. “Quem está fora da Linha Circular é mais prejudicado e será um prejuízo na mobilidade da cidade”. Partilha que seria mais benéfico expandir para áreas da cidade que ainda não têm este tipo de serviço, como a Ajuda.
Os membros do movimento mostram-se desiludidos com o desfecho, porque várias pessoas contribuíram com a petição para que este debate fosse feito. “Organizamo-nos porque a medida não fazia sentido. Falamos com técnicos, antigos funcionários do Metro”. O porta-voz explica que o movimento tentou alertar para os riscos da construção, mas, foram sempre ignorados pelas autoridades do Governo. Após a petição ter chegado ao Parlamento, e ter sido aprovado em Orçamento do Estado a suspensão da Linha Circular, afirma que “só foram ultrapassados por um partido que não está a cumprir a lei” e a ignorar a segunda medida legislativa mais forte do país.
“Temos um país que vira as costas aos seus cidadãos e que, posteriormente, reclamam da cidadania e da abstinência de votos”. Apesar da “falta de educação” que afirmam ter havido por parte do PS, vão continuar a analisar outras iniciativas, como por exemplo, a proposta apresentada pelo PSD, que permite que os utilizadores do Norte ainda tenham acesso sem transbordos e permite o crescimento da linha. Esta solução permite que ainda seja possível reformular a linha, mesmo com o avanço das obras. “Com um desfecho destes não é encorajador. Mas nós vamos continuar”.